terça-feira, novembro 20, 2007

Saudades do pai!



20 de Novembro de 1915, nascia o meu pai, Álvaro Barbosa Andrade, em Cabeça de Carreira, Santa Catarina. Quando vim ao mundo ele tinha 48 anos e, portanto, não pude aprender com ele a nadar, como aconteceu com os meus irmãos Lidia e David, ou a jogar futebol, que ele tanto sabia, como me contaram alguns amigos dele. Por ser um defesa inultrapassável, ele ganhou a alcunha de "Tubarão".

Na minha adolescência, senti o peso da sua forte presença na educação e formação do meu carácter, mas quando regressei do exterior com o meu diploma ele já se tinha reformado. Olhando para trás, gostaria de ter compartilhado mais tempo com ele na infância, na adolescência e na juventude. Talvez porque, agora, procuro estar muito tempo com o meu filho Diego e ser parte das suas atividades.

Aqueles que nos conhecem, dizem que me pareço muito com o meu pai, tanto no físico, como em determinados aspectos da minha personalidade, o que para mim é um "orgulho". Gosto muito dele e tenho guardado algumas lembranças que me deixaram profundas marcas.

Nununo, como era conhecido pelos mais próximos, era o humor em pessoa. Para ele, o humor era um estilo de vida e não um simples momento alegre ou de contar anedotas.

A frontalidade era uma das suas principais características e nunca o vi mudar de opinião devido às transitórias circunstâncias da vida. Talvez o tenho feito - quem não o faz!!?? - mas a memória que tenho dele é de quem para o qual a palavra é mais importante do que a posição social, conta bancária ou pretensões.

Nununo sabia entender as pessoas. Às vezes a paciência não abundava - que o digam a Lidia, o David e a suas pernas -, mas no meu caso, talvez devido à idade avançada, encontrei nele alguém que me entendia, embora não estivesse sempre de acordo. Muitas vezes batemos de frente em conversas sobre política, futebol e religião.

Por exemplo, engoliu a seco a minha opção pelo jornalismo e não poucas vezes me pediu que tivesse cuidado, principalmente na cobertura de assuntos políticos. Quando critiquei a invasão do Panamá pelos Estados Unidos, ele ouviu da boca do cônsul americano que eu nunca entraria no país. Outra vez, mostrou-se preocupado, mas nada mais. A foto acima foi tirada com ele e minha mãe nos Estados Unidos em 1993.

Os seus colegas, principalmente os mais novos, sempre encontraram nele um amigo, um conselheiro. As conversas eram longas, mas produtivas, segundo me contaram alguns.

Poderia escrever páginas e páginas de recordações do meu pai, mas vou deixar aqui apenas duas referências que considero marcantes. Em Outubro de 1999, eu estava em Moçambique e ele adoeceu. Nesse período comentou com um familiar: "o Alvarito não vem todos os dias visitar-me, mas sei que posso chamá-lo a qualquer momento".

O segundo episódio aconteceu no seu último ano de vida. Depois de uma discussão, ele me acusou sem razão. Quando à tarde fui apanhá-lo na pracinha para levá-lo para a casa, a primeira coisa que fez foi pedir-me desculpas. Aos 83 anos! Um pai pedir desculpas ao filho??!!
Isso não é para qualquer um. Só para homens de H grande, apesar das suas falhas, como todo ser humano.

Por isso, Deus lhe concedeu aquele que talvez foi o seu último pedido. No dia 31 de Dezembro de 1999, disse que tinha terminado a sua missão aqui na terra e que se Deus quisesse podia levá-lo em paz. Três dias depois ele falecia, sem chorar nem sofrer.

Chorei pouco com a partida dele porque sabia que ele estava feliz onde se encontrava. Mas depois de tantos anos tenho saudades do pai! E sinto falta das suas orações, sempre às 3 da manhã!

3 comentários:

Anónimo disse...

Alvarito

Ontem quando me lembrava que se estvesse vivo completaria 91 anos, fiquei a pensar no pai que tivemos.
Deus nos presentiou cm pais que Graças á Sua misericórdia temos referencias e peço a Deus que me ajude a seguir as pisadas.
Do meu pai, tenho saudades do seu sorriso, dos seus conselhos, dos diálogos que se aprofundaram muito mais na Praia( por ter vivido muitos anos longe), das suas brincadeiras, enfim de tudo... gostaria de ter o dom de escrever que Deus te deu, para dizer o que me vai na alma
Quanto á nossa mãe peço a Deus, que lhe dè muitos anos de vida, pq chego a toda a hora a ela p/ pedir opinião, para ouvir os seus conselhos da vida quotidiaan e espiritual, a sua paciencia (que Deus ainda não me deu), sua fé... enfim... diariamnete agradeço pela família que Ele me deu e que amo tanto.
Portadora de cajado

Anónimo disse...

Ao consultar o teu blog, reparei no texto que escreveste e fiquei emocionado, não só pelo texto, mas principalmente porque no dia 20 de novembro levando a minha esposa para casa e lha disse que se hoje o nosso pai estivesse vivo estaríamos a festejar os seus 91 primaveras. E com isso desde manhã pensando que dia era esse, senti o título que colocaste no meu coração, e veio a tristeza de não tê-lo por perto mas ao mesmo tempo a certeza da alegria que ele está a sentir neste momento, coisa que nesta vida faltou muitas vezes com as dificuldades do dia a dia, doença (dor de cabeça e asma). Uma coisa que nunca disse a ninguém mas digo agora, foi quando eu fui lhe ver no caixão deitado encontrei um Pápá com feições suaves, lindas, e com um sorriso no rosto, e mais do que isso, ele estava tranquilo sem dores de cabeça e asma (algo que nunca tinha visto durante os 31 anos de vida juntos), pq tinha ido ao encontro do Pai Celestial, e ele de certeza estava a cantar "Estamos muito alegres, Jesus está aqui!...".
Não poderia de deixar de agradecer à nossa mãe pela coragem de andar ao lado de um Homem certamente difícil, mas de Deus durante 50 anos sem fraquejar, e manter na nossa mente o quanto ele serviu a Deus, pedindo que sejamos firmes na caminhada que ele nos mostrou.
Bençãos do Senhor à minha família (esposa e filhos) e a todos os meus irmãos e agregados que AMO DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO!
Irmão da Portadora do Cajado.

Anónimo disse...

E lindo o teu texto Alvarito.
E eu sei quanta saudade voce sente pelo seu pai. Eu tambem sento muita saudade dele, igual que o Dieguito. Quantas veces temos estado na noite olhando a tv e o Diego de repente me tem preguntado: Mama vovo Nununo era um santo verdade? Ele nos amaba muito? E ai temos comecado a falar de ele, da sua cadeira onde dormia todas as noites fingindo que olhaba as telenovelas conozco... lembramos do pequeno almoco de comia com papa de milho, chorico e manteiga. E do beijo que dabamos todas as veces que subiamos a sua casa e ai estaba ele todo perfumado, cheiroso, elegante...

Que Deus te abencoe e voce possa ser um pai exemplar e guiador. Que Deus te de muita sabiduria para entender e educar teu filho.

PS: Desculpa meu portunhol