quarta-feira, agosto 19, 2009

Ao lado

A ilha do Sal foi ontem, 19, palco de uma rara operação, de escuros contornos, que, talvez por isso, atraiu os olhos do mundo. As principais agências de notícias e televisões fizeram de tudo para ter acesso às imagens, sons e, principalmente, detalhes do que veio a transformar-se num transbordo de 11 tripulantes russos do navio Artic Sea, alegadamente sequestrado há mais de duas semanas, e 8 também supostos sequestradores.

A operação foi montada à imagem e semelhança do modelo soviético, não fosse o actual primeiro-ministro russo um ex-espião da maior máquina propagandista do século passado. O governo russo não informou a Praia de que os sequestradores estavam a bordo e que os pretendia levá-los de seguida para Moscovo. Antes, uma comitiva dos serviços de segurança chegou ao Sal para "investigações", segundo o simpático embaixador russo na Praia, Alexander Alexandre Karpouchine. Eles se encarregaram dos sequestradores que tiveram que ficar sem camisa e com a cabeça metida no bote que os levou do navio de guerra para o Porto da Palmeira, de onde seguiram para o aeroporto.
Toda esta longa introdução visa manifestar uma preocupação que, de facto, é chocante. As autoridades cabo-verdianas primaram-se por um silêncio ensurdecedor e por uma visível ausência, principalmente no Sal. Choca-me porque este teria sido um bom momento para o governo mostrar o seu empenho e efectivo engajamento no combate à pirataria ou terrorismo internacional.
Também teria sido uma óptima oportunidade para mostrar a importância geopolítica de Cabo Verde ao receber a secretária de Estado americana e abrir os braços a uma maior cooperação em matéria de segurança com Washington e, uma semana depois, ser palco de um dos resgates mais falados e intrigantes dos últimos tempos. Além disso, seria sempre mais uma oportunidade para dar maior visibilidade ao nosso país, que continua desconhecido das grandes potências, ou seja das que realmente interessam.

Ningém deu um pio. Os poucos jornalistas que viram nessa história um furo jornalístico ficaram pelas conversas com os assessores ou se esbarraram com a caixa de correo dos telemóveis. Outras situações do género estão por vir e devemos estar preparados para delas tirar os melhores dividendos ao nível da imagem do país e das autoridades e da prestabilidade de Cabo Verde.
Fotos: AFP

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