segunda-feira, setembro 07, 2009

Um cabo-verdiano na China

Pedi ao meu querido sobrinho Dárius, para mim Pacá, nominho que lhe pus desde o dia em que chegou da Rússia onde nasceu, um artigo sobre a experiência na China, depois de um ano naquele país asiático onde estuda medicina. Aqui fica o texto.
No entanto, para quem não sabe que o Dárius é um artista (será que me saiu?????, Ahahah), aqui fica o seu primeiro videoclip: http://www.youtube.com/watch?v=n6d6bPAAoSI. É só clicar e apreciar.

Sair de Cabo Verde para estudar noutro pais foi mesmo um desafio enorme para mim, principalmente no que diz respeito a ideais e costumes. Deixar a “katkhupa” para entrar numa gastronomia completamente diferente foi algo que eu tive de aprender a me adaptar.

Muitos sites na internet são proibidos aqui, mas posso dizer que temos liberdade em muitos aspectos. Até a nível da religião, cuja prática não é proibida, como muitos pensam em Cabo Verde. Existe alguma liberdade e até já vi chineses distribuindo literatura na rua com a mensagem de Cristo. Também há restaurantes em que chineses professam a religião islâmica e cuja comida é quase parecida à nossa.

Mas agora vou “relatar” a minha vida diária como ela verdadeiramente é. É mesmo muito interessante viver aqui na China. É uma rotina, mas, de vez em quando, acontece algo de diferente.

No período das aulas, levanto-me geralmente às 8 horas da manhã, preparo-me e se, estiver frio, apanho um pequeno autocarro para a escola. Quando não há frio vou mesmo de bicicleta, pois a distância do meu apartamento para a escola é de aproximadamente 20 minutos.

Depois das aulas, eu e os meus amigos vamos à cantina para o almoço. Aí imaginamos estar a comer uma boa feijoada, porque a maioria dos pratos é feita à base de muito óleo e picante, o que é muito difícil de se habituar. Na verdade, poucos são os pratos que se parecem com os de Cabo Verde.
Depois do almoço, voltamos para as aulas, mas nem todos os dias temos aulas nos dois períodos. Mais tarde, costumo sair e fazer algum desporto com os meus amigos chineses, como, por exemplo, basquetebol. Curioso é que, apesar de serem pequenos em estatura, são muito habilidosos e ágeis.

No final do dia, é tempo de regressar à casa. Tomo um bom banho, estudo, janto e, depois, entro na Internet para falar com amigos de Cabo Verde e de outros países. No fim do dia, medito e durmo até a manhã seguinte para enfrentar mais um dia. Este é o meu dia-a-dia!

Outro aspecto: como estamos localizados no “interior”, temos de ir à cidade de Nanchang para comprar coisas que precisamos e deparamo-nos com situações caricatas, nas quais os chineses ficam a ver para nós como se fossemos “extraterrestres”. Fazem perguntas que não acabam nunca. Acontece frequentemente, mas com o tempo isso passa…

Moro num apartamento com um amigo meu, também cabo-verdiano, e temos muitas vantagens em relação aos estudantes chineses. Eles são quatro por apartamento, mas vivem bem e sem quaisquer problemas.

Todos os dias acordo com uma saudade da minha terra, da minha família, dos meus amigos, da Igreja, enfim, de todos! Tenho muitos amigos, de quase todos os cantos do mundo, e comunicamo-nos em inglês e em chinês.

A vida aqui é simples e barata, falar o chinês é fácil, mas escrever e relembrar os caracteres são outros quinhentos. Ou melhor, são 5000 caracteres, embora no dia-a-dia necessitemos apenas de 1500 para nos comunicarmos.

Esta é a vida de estudante, nada fácil mas, por outro lado, divertida. Quem me dera poder voltar a Cabo Verde a cada vez que a saudade aperta!!!! São muitas lembranças, muitos amigos, muitas situações, enfim…Quem trocaria Cabo Verde por outro país???

Dárius Lima

PS: Pacá, e por fim, já comeste carne de cão?????

1 comentário:

Zuzu disse...

Darius gostei muito do seu dia- a dia. Mas conta como foi a sua chegada na china.