Há dias lancei esta questão num post no Facebook e disse que regressaria ao tema.
Dedicatória: No Dia Mundial da Luta Contra o Câncer a todas as guerreiras e guerreiros, uma história verídica.
De criança, bem pequeno, os mais chegados chamavam-lhe “Vai”. Ninguém
sabe por quê. Nem ele mesmo. E nunca perguntou.
O ano de 2017 não foi dos melhores para Vai. Foi duro, em todos os aspectos. Para complical, em Setembro começou a sentir alguma fraqueza
física e cansaço anímico. Mas continuou a trabalhar e a levar a vida
normalmente.
Em Novembro, Vai pensou que essa fraqueza, cada vez mais acentuada,
poderia estar ligada à época da gripe e tomou alguns dos tradicionais remédios,
de farmácia e “da terra”. Mas nada. Como nos primeiros dias de Dezembro tinha a
sua consulta anual, esperou pelos exames. Os resultados não foram de todo bons.
Os níveis de açucar dispararam para perto dos de um diabético – sem o
ser -, as enzimas no fígado aumentaram de forma assustadora, os exames
indicaram alguma anomalia nos rins. Vai perdeu cerca de sete quilos em três ou
quatro semanas.
Passo seguinte foi fazer um CTScan (TAC) que indicou haver um “tecido suave”,
exactamente no local onde lhe tinham extirpado um câncer há mais de três anos,
mas o radiologista não pôde confirmar se era maligno ou benigno. O cirurgião
apontou um caminho e enviou Vai para um especialista em gastroenterologia, para
desbloquear o conduto biliar e permitir a circulação dos fluídos. Esse bloqueio
era a causa do problema.
Dúvidas e biópsias inconclusivas
O gastroenterologista, devido à anatomia e ao histórico de Vai, admitiu
que podia ser câncer e o enviou ao radiologista para fazer uma biópsia. Antes de colocar qualquer cilindro ou anel, "há que saber com que estamos a tratar", disse o especialista.
O Natal não foi dos melhores. Com pouca energia, a opção foi passar mais
tempo em casa. Vai não pôde ir aos concertos de Natal de que tanto gosta nem passear pela cidade.
Com uma dieta rigorosa devido ao nível de açúcar, ficou longe dos gostosos
quitutes e goloseimas da época.
No terceiro dia de 2018, Vai foi submetido a uma intervenção cirúrgica
de uma hora e 10 minutos para a introdução de um tubo que permitisse a
circulação dos líquidos pelo conduto biliar. E fazer a biópsia. Ficou um dia no
hospital, de onde saiu com um tubo no estômago que tinha de cuidar muito bem.
Menos de 48 horas depois, Vai passou a sentir-se bem e quatro dias
mais tarde os níveis de açucar, enzimas e outros começaram a regressar à normalidade.
Mas a biópsia tinha sido inconclusiva e oito dias depois, regressou ao hospital para uma nova intervenção.
Para mais uma biópsia e para que lhe colocassem o tal cilindro ou anel. Mais
uma intervenção de 70 minutos, com anestesia geral, e Vai regressou à casa com o
mesmo tubo.
A espera valeu a pena
A biópsia voltou a ser inconclusiva. Agora, seria a vez do especialista sénior
em gastroenterologia entrar em cena para ver, com uma câmera, o tal tecido, se
era maligno ou não, e colocar o cilindro para abrir o conduto biliar. A
espera foi de 20 dias e no dia da intervenção, a equipa de radiologia
atrasou-se por uma hora. As duas equipas tinham de trabalhar juntas.
Depois da cirurgia, um dos especialistas veio trazer “boas notícias”,
como ele próprio disse: não encontraram nenhum tecido, nem qualquer indicação
de qualquer tumor e o que estava a bloquear o conduto era uma pequena pedra que
foi removida. Mesmo assim, voltaram a enviar material para uma terceira
tentativa de biópsia.
Vai regressou à casa tranquilo, como esteve em todo esse processo, mesmo
quando a 5 de Dezembro um oncologista lhe avisou que poderia ser um câncer.
Mesmo depois de dois dias após o Natal o gastroenterologista ter admitido que podia
ser o regresso do câncer de pâncreas que ele teve há mais de três anos. Ou mesmo
depois de um dos médicos presentes na segunda intervenção ter afirmado que para
eles “era 50 por cento maligno e 50 por cento benigno”.
Esperar, saber esperar
Durante esses dois últimos meses, Vai teve de saber gerir a espera ou
desesperar-se. No seu “manual de recursos”, ele puxou dos que a sua fé e experiência lhe ensinaram:
1. Manter a
sua fé firme em Deus e na promessa que recebeu em Setembro de 2014, depois de
um exame ter dado células cancerígenas que, no entanto, depois… “desapareceram”,
segundo os médicos: o milagre está feito. E se estava é porque está feito!
2. Ter em mente
que todo o processo tem um princípio, meio e fim, e um tempo determinado. O
desespero não encurta o tempo, apenas complica o processo. O ser humano espera
nove meses para nascer na perfeição. Antes, pode ser problemático. O próprio
Jesus, que tinha poder para descer da cruz, esperou três dias para ressuscitar.
Então, todo o processo é para ser vivido.
3. Continuar
a trabalhar e a fazer a sua vida da forma mais normal possível, contornando as
limitações e evitando o que não podia.
4. Manter a
mente sempre ocupada e em alerta, focada no que ele pediu a Deus.
5. Seguir
os tratamentos e orientações dos médicos.
6. Descansar
e não "complicar" o trabalho de Deus. É hora d´Ele actuar"!
O Vai da história sou eu, Álvaro, na verdade assim me chamavam em casa de
criança. Alvarito veio depois.
Uma vez mais e sempre dou graças a Deus por mais um milagre, à família
pelas orações e força, aos colegas de trabalho que me ajudaram, aos que têm
orado por mim.
Neste Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, deixo palavras de
encorajamento, esperança e fé às guerreiras e guerreiros com esta história
real.
A fé em acção faz milagres. Toca o coração de Deus!
Sem comentários:
Enviar um comentário