domingo, fevereiro 04, 2018

A gestão da espera


Há dias lancei esta questão num post no Facebook e disse que regressaria ao tema. 

Dedicatória: No Dia Mundial da Luta Contra o Câncer a todas as guerreiras e guerreiros, uma história verídica.

De criança, bem pequeno, os mais chegados chamavam-lhe “Vai”. Ninguém sabe por quê. Nem ele mesmo. E nunca perguntou.

O ano de 2017 não foi dos melhores para Vai. Foi duro, em todos os aspectos.  Para complical, em Setembro começou a sentir alguma fraqueza física e cansaço anímico. Mas continuou a trabalhar e a levar a vida normalmente.

Em Novembro, Vai pensou que essa fraqueza, cada vez mais acentuada, poderia estar ligada à época da gripe e tomou alguns dos tradicionais remédios, de farmácia e “da terra”. Mas nada. Como nos primeiros dias de Dezembro tinha a sua consulta anual, esperou pelos exames. Os resultados não foram de todo bons.

Os níveis de açucar dispararam para perto dos de um diabético – sem o ser -, as enzimas no fígado aumentaram de forma assustadora, os exames indicaram alguma anomalia nos rins. Vai perdeu cerca de sete quilos em três ou quatro semanas.

Passo seguinte foi fazer um CTScan (TAC) que indicou haver um “tecido suave”, exactamente no local onde lhe tinham extirpado um câncer há mais de três anos, mas o radiologista não pôde confirmar se era maligno ou benigno. O cirurgião apontou um caminho e enviou Vai para um especialista em gastroenterologia, para desbloquear o conduto biliar e permitir a circulação dos fluídos. Esse bloqueio era a causa do problema. 



Dúvidas e biópsias inconclusivas

O gastroenterologista, devido à anatomia e ao histórico de Vai, admitiu que podia ser câncer e o enviou ao radiologista para fazer uma biópsia. Antes de colocar qualquer cilindro ou anel, "há que saber com que estamos a tratar", disse o especialista.

O Natal não foi dos melhores. Com pouca energia, a opção foi passar mais tempo em casa. Vai não pôde ir aos concertos de Natal  de que tanto gosta nem passear pela cidade. Com uma dieta rigorosa devido ao nível de açúcar, ficou longe dos gostosos quitutes e goloseimas da época.

No terceiro dia de 2018, Vai foi submetido a uma intervenção cirúrgica de uma hora e 10 minutos para a introdução de um tubo que permitisse a circulação dos líquidos pelo conduto biliar. E fazer a biópsia. Ficou um dia no hospital, de onde saiu com um tubo no estômago que tinha de cuidar muito bem.

Menos de 48 horas depois, Vai passou a sentir-se bem e quatro dias mais tarde os níveis de açucar, enzimas e outros começaram a regressar à normalidade. Mas a biópsia tinha sido inconclusiva e oito dias depois, regressou ao hospital para uma nova intervenção. Para mais uma biópsia e para que lhe colocassem o tal cilindro ou anel. Mais uma intervenção de 70 minutos, com anestesia geral, e Vai regressou à casa com o mesmo tubo.



A espera valeu a pena

A biópsia voltou a ser inconclusiva. Agora, seria a vez do especialista sénior em gastroenterologia entrar em cena para ver, com uma câmera, o tal tecido, se era maligno ou não, e colocar o cilindro para abrir o conduto biliar. A espera foi de 20 dias e no dia da intervenção, a equipa de radiologia atrasou-se por uma hora. As duas equipas tinham de trabalhar juntas.

Depois da cirurgia, um dos especialistas veio trazer “boas notícias”, como ele próprio disse: não encontraram nenhum tecido, nem qualquer indicação de qualquer tumor e o que estava a bloquear o conduto era uma pequena pedra que foi removida. Mesmo assim, voltaram a enviar material para uma terceira tentativa de biópsia.

Vai regressou à casa tranquilo, como esteve em todo esse processo, mesmo quando a 5 de Dezembro um oncologista lhe avisou que poderia ser um câncer. Mesmo depois de dois dias após o Natal o gastroenterologista ter admitido que podia ser o regresso do câncer de pâncreas que ele teve há mais de três anos. Ou mesmo depois de um dos médicos presentes na segunda intervenção ter afirmado que para eles “era 50 por cento maligno e 50 por cento benigno”.



Esperar, saber esperar

Durante esses dois últimos meses, Vai teve de saber gerir a espera ou desesperar-se. No seu “manual de recursos”, ele puxou dos que a sua fé e experiência lhe ensinaram:

  1. Manter a sua fé firme em Deus e na promessa que recebeu em Setembro de 2014, depois de um exame ter dado células cancerígenas que, no entanto, depois… “desapareceram”, segundo os médicos: o milagre está feito. E se estava é porque está feito!

  2. Ter em mente que todo o processo tem um princípio, meio e fim, e um tempo determinado. O desespero não encurta o tempo, apenas complica o processo. O ser humano espera nove meses para nascer na perfeição. Antes, pode ser problemático. O próprio Jesus, que tinha poder para descer da cruz, esperou três dias para ressuscitar. Então, todo o processo é para ser vivido.

  3. Continuar a trabalhar e a fazer a sua vida da forma mais normal possível, contornando as limitações e evitando o que não podia.

  4. Manter a mente sempre ocupada e em alerta, focada no que ele pediu a Deus.

  5. Seguir os tratamentos e orientações dos médicos.

  6. Descansar e não "complicar" o trabalho de Deus. É hora d´Ele actuar"!

Nota final

O Vai da história sou eu, Álvaro, na verdade assim me chamavam em casa de criança. Alvarito veio depois.

Uma vez mais e sempre dou graças a Deus por mais um milagre, à família pelas orações e força, aos colegas de trabalho que me ajudaram, aos que têm orado por mim.

Neste Dia Mundial de Luta Contra o Câncer, deixo palavras de encorajamento, esperança e fé às guerreiras e guerreiros com esta história real.


A fé em acção faz milagres. Toca o coração de Deus!

Sem comentários: