terça-feira, novembro 07, 2006

O pensamento único


Quinze anos após a abertura ao pluripartidarismo, o debate de ideias em Cabo Verde mantém-se preso ao regime de partido único. Ou melhor, no regime do pensamento único. É que, salvas rarísssimas excepções, aqueles que se apressam a comentar, analisar ou criticar “desejam” ser os únicos pensantes e deter “a verdade”.

Esse pensamento primitivo tem bloqueado todo o debate político, social, económico, linguístico, desportivo, etc., e impedido o surgimento de um verdadeiro debate nacional sobre matérias que, num país pequeno e com tantas fragilidades, exigem um consenso, pelo menos a nível estratégico. Ao ler a grande maioria dos nossos comentaristas e colunistas, facilmente noto que os temas escolhidos não são definidos pela pertinência dos assuntos ou a necessidade de manifestar uma opinião com algum interesse público – que é a base de tudo o que é publicável -, mas pela “obrigatoriedade cultural” do crioulo de não levar “desaforo para casa”.

Quase sempre, os artigos surgem em resposta a alguém ou a determinada situação, numa lógica de “lavar a honra”. Desta forma, os articulistas separam as águas entre os que estão com eles e aqueles que são do contra, numa lógica puramente reducionista, onde o debate de ideias se assemelha às tristemente célebres “conversas de familia”.

A democracia cabo-verdiana e, principalmente, o desenvolvimento do país clamam por mentes abertas e dispostas a colocarem os seus pensamentos, propostas e projectos a favor da comunidade, não numa lógica paternalista, mas num entendimento de que o desenvolvimento só pode ser algo sustentado quando for precedido de um modelo, amplamente discutido.

E este modelo só surge quando – que me desculpem essa classificação classista – “as cabeças pensantes” deixarem os seus guettos existencialistas e individualistas e tenham a capacidade de criar ideias que promovam projectos de impacto na sociedade. Caso contrário, continuaremos discutindo, neste presente século, se a fome de 47 foi culpa dos portugueses e se devemos continuar comendo pedras como as cabras nos ensinaram.

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