Mindelo continua chorando. Ribeira de Vinha caiu aos prantos, na quarta-feria passada, ao sentir a aproximação dos passos pesados de milhares de mindelenses que se aproximavam da “praça” que ninguém gosta de visitar: a 1888. S.Vicente gemeu com a perda de um dos seus filhos, não apenas querido e ilustre, mas que por onde passou deixou, orgulhosamente, uma imagem positiva da ilha e do país.
S.Vicente e Cabo Verde choraram e com razão. Se a natureza foi outrora madrasta, coube agora ao curso da vida, que alguns chamam destino, retirar à ilha e ao país Carlos Alhinho, sem dúvida o mais conhecido atleta cabo-verdiano a nível internacional.
Carlos Alhinho foi e ainda é o nome mais saliente do futebol cabo-verdiano. Querendo ou não, gostando ou não, Godbjaba, como era conhecido esse menino de Soncente, numa rápida análise, foi, enquanto jogador, aquele que maior destaque obteve a nível internacional. Se não me falha a memória – e os arquivos poderão confirmar ou corrigir essa informação – Alhinho foi o primeiro atleta a jogar nos três principais clubes portugueses e, também, o primeiro cabo-verdiano a ganhar títulos nacionais em dois deles: Sporting e Benfica. Na selecção portuguesa, ele terá sido ultrapassado apenas por Oceano. Chegou a integrar a “selecção européia”, escolhida pela imprensa do velho continente.
Como técnico, subiu o “crioulo” Académico de Viseu à primeira divisão do futebol luso e levou a selecção de Angola à sua primeira Copa de África das Nações. Às boas experiências no futebol árabe, onde foi considerado técnico do ano, aliou ainda uma fugaz passagem pela selecção de Cabo Verde, depois da qual terá concluído que “o meu mundo não é este”.
O prazer de o conhecer
Conheci Carlos Alhinho au passant em 1979, tinha eu 15 anos, em casa do sr. Julio “Siminhas” Vera-Cruz. Era apenas um apaixonado pelo futebol e adepto do Benfica, e deliciei-me ao vê-lo contar ao sr. Julio e ao meu pai algumas peripécias do time da Luz que os jornais não publicavam na época. Depois, já adulto, cruzámo-nos um par de vezes e as conversas foram de ocasião, mas deu para me aperceber da fineza e da inteligência desse homem que marcaram aqueles que trabalharam com ele.
Para os mais distraidos, Alhinho foi um dos maiores defesas centrais do mundo da sua geração. Para aqueles que sabem do futebol apenas um detalhe: para ele, o futebol era jogar à bola, redonda, e não bater na canela do adversário.
Como cabo-verdiano e jornalista amante do desporto, principalmente do futebol, registo que Alhinho marcou a nossa geração, pela classe que impunha nos relvados, pela agudeza do seu pensamento futebolístico e pela sua personalidade fora das quatro linhas. Tinha defeitos como todo o ser humano, mas era um “fazedor de pontes”, amigo da familia e dos amigos e homem de coração grande. Por isso, em vez de investir noutras paragens onde poderia ganhar muito dinheiro, decidiu criar a sua academia em S.Vicente para permitir que “os meninos de Soncente pudessem jogar a bola na relva”, como me contou no telefone, horas antes do enterro do irmão, a Tetê Alhinho.
Homem de principios, um gentleman por natureza, de fino trato, Carlos Alhinho compreendeu a sua época e a sua identidade. Cidadão do mundo e protagonista de primeira linha em Portugal e na Europa, ele assumiu sempre a sua cabo-verdianidade, sem discursos chauvinistas ou patrióticos para inglês ver. Ser crioulo para ele era um orgulho, mas sem se ufanar de nada, e por isso quis que seus restos mortais dormissem finalmente perto do local onde ele terá dado dos primeiros chutes, a Riberia de Vinha.
Prêmio Carlos Alhinho
Não gosto de funerais nem discursos fúnebres, muitos deles simplesmente de ocasião. Prefiro dar flores em vida, mas essa mesma vida prega-nos algums partidas como este adeus forçado a Carlos Alhinho. Por isso, gostaria de ver algum dia, a Federação Cabo-verdiana de Futebol ou alguma entidade filantrópica, empresarial ou associativa atribuir o nome de Carlos Alhinho ao prêmio maior do futebol crioulo. O orgulho não será para ele, mas para quem ganhar o prêmio!
Desde longe, mando um abraço de consolo à familia, em particular, e por motivos óbios, àqueles que conheço bem: ao Mário, meu colega de escola e de travessuras no Liceu; ao professor Alexandre, com o qual mesmo à distância aprendi muito sobre a forma como que se deve encarar o desporto; ao Alexandre “Cordinha”, com quem troquei muitas idéias sobre o futebol moderno e o que se deve fazer a nível estrutural em Cabo Verde; à Tetê, amiga, mulher de uma enorme senbilidade e cuja sonoridade musical é presença obrigatória no meu carro ou nas noites em que me apetece ouvir a boa música cabo-verdiana.
Parabéns S.Vicente, em particular, e Cabo Verde, em geral, por ter um filho chamado Carlos Alhinho.
S.Vicente e Cabo Verde choraram e com razão. Se a natureza foi outrora madrasta, coube agora ao curso da vida, que alguns chamam destino, retirar à ilha e ao país Carlos Alhinho, sem dúvida o mais conhecido atleta cabo-verdiano a nível internacional.
Carlos Alhinho foi e ainda é o nome mais saliente do futebol cabo-verdiano. Querendo ou não, gostando ou não, Godbjaba, como era conhecido esse menino de Soncente, numa rápida análise, foi, enquanto jogador, aquele que maior destaque obteve a nível internacional. Se não me falha a memória – e os arquivos poderão confirmar ou corrigir essa informação – Alhinho foi o primeiro atleta a jogar nos três principais clubes portugueses e, também, o primeiro cabo-verdiano a ganhar títulos nacionais em dois deles: Sporting e Benfica. Na selecção portuguesa, ele terá sido ultrapassado apenas por Oceano. Chegou a integrar a “selecção européia”, escolhida pela imprensa do velho continente.
Como técnico, subiu o “crioulo” Académico de Viseu à primeira divisão do futebol luso e levou a selecção de Angola à sua primeira Copa de África das Nações. Às boas experiências no futebol árabe, onde foi considerado técnico do ano, aliou ainda uma fugaz passagem pela selecção de Cabo Verde, depois da qual terá concluído que “o meu mundo não é este”.
O prazer de o conhecer
Conheci Carlos Alhinho au passant em 1979, tinha eu 15 anos, em casa do sr. Julio “Siminhas” Vera-Cruz. Era apenas um apaixonado pelo futebol e adepto do Benfica, e deliciei-me ao vê-lo contar ao sr. Julio e ao meu pai algumas peripécias do time da Luz que os jornais não publicavam na época. Depois, já adulto, cruzámo-nos um par de vezes e as conversas foram de ocasião, mas deu para me aperceber da fineza e da inteligência desse homem que marcaram aqueles que trabalharam com ele.
Para os mais distraidos, Alhinho foi um dos maiores defesas centrais do mundo da sua geração. Para aqueles que sabem do futebol apenas um detalhe: para ele, o futebol era jogar à bola, redonda, e não bater na canela do adversário.
Como cabo-verdiano e jornalista amante do desporto, principalmente do futebol, registo que Alhinho marcou a nossa geração, pela classe que impunha nos relvados, pela agudeza do seu pensamento futebolístico e pela sua personalidade fora das quatro linhas. Tinha defeitos como todo o ser humano, mas era um “fazedor de pontes”, amigo da familia e dos amigos e homem de coração grande. Por isso, em vez de investir noutras paragens onde poderia ganhar muito dinheiro, decidiu criar a sua academia em S.Vicente para permitir que “os meninos de Soncente pudessem jogar a bola na relva”, como me contou no telefone, horas antes do enterro do irmão, a Tetê Alhinho.
Homem de principios, um gentleman por natureza, de fino trato, Carlos Alhinho compreendeu a sua época e a sua identidade. Cidadão do mundo e protagonista de primeira linha em Portugal e na Europa, ele assumiu sempre a sua cabo-verdianidade, sem discursos chauvinistas ou patrióticos para inglês ver. Ser crioulo para ele era um orgulho, mas sem se ufanar de nada, e por isso quis que seus restos mortais dormissem finalmente perto do local onde ele terá dado dos primeiros chutes, a Riberia de Vinha.
Prêmio Carlos Alhinho
Não gosto de funerais nem discursos fúnebres, muitos deles simplesmente de ocasião. Prefiro dar flores em vida, mas essa mesma vida prega-nos algums partidas como este adeus forçado a Carlos Alhinho. Por isso, gostaria de ver algum dia, a Federação Cabo-verdiana de Futebol ou alguma entidade filantrópica, empresarial ou associativa atribuir o nome de Carlos Alhinho ao prêmio maior do futebol crioulo. O orgulho não será para ele, mas para quem ganhar o prêmio!
Desde longe, mando um abraço de consolo à familia, em particular, e por motivos óbios, àqueles que conheço bem: ao Mário, meu colega de escola e de travessuras no Liceu; ao professor Alexandre, com o qual mesmo à distância aprendi muito sobre a forma como que se deve encarar o desporto; ao Alexandre “Cordinha”, com quem troquei muitas idéias sobre o futebol moderno e o que se deve fazer a nível estrutural em Cabo Verde; à Tetê, amiga, mulher de uma enorme senbilidade e cuja sonoridade musical é presença obrigatória no meu carro ou nas noites em que me apetece ouvir a boa música cabo-verdiana.
Parabéns S.Vicente, em particular, e Cabo Verde, em geral, por ter um filho chamado Carlos Alhinho.
* Foto do Expresso das Ilhas
1 comentário:
Cá em Portugal as pessoas receberam a noticia e ficaram de rastos e gostei a justa homenagem que a comunicação do modo geral deram atenção a morte deste Vitórioso Alhinho!
Que a sua alma descansa em Paz!
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