quinta-feira, julho 16, 2009

Eugénio, o HOMEM

De repente, o pacato pastor evangélico Eugénio Duarte, há alguns anos radicado na longínqua África do Sul, encheu as páginas dos jornais e noticiários em Cabo Verde e em alguns meios online. A noticia foi a sua eleição para o mais alto cargo da Igreja do Nazareno a nível mundial. Para Cabo Verde e para os nazarenos foi um acontecimento histórico.
Imaginei a forma como Ti Djena, como a "malta" de S.Vicente dos anos 80 o apelidou, poderia ter seguido as notícias. Com um sorriso envergonhado de alguém que, sabendo do que é capaz, no entanto, não consegue deixar de ser simples e verdadeiramente humilde. Mas sabendo que, como ele tão bem disse: "estou aqui para servir".

Conheci o hoje Dr. Reverendo Eugénio Duarte em 1975, tinha eu apenas 11 anos, quando, com um filho nos braços e esposa, chegou para estudar no Seminário Nazareno, em S.Vicente. Os seminaristas tinham aulas de Educação Física, mas como apenas jogavam voleibol, comecei a apresentar-me no popularíssimo Quintal do Kevin para ver os jogos. Foi então que iniciei a minha aprendizagem naquele que é o meu segundo desporto favorito, o voleibol. Desse tempo, tenho a lembrança do Dr. Duarte com calções verdes, um sorriso sempre aberto quando não acertava na bola e aquele ar simples de alguém que sabia que aquilo era apenas para mexer o corpo.

Foi líder dos jovens da Igreja do Nazareno do Mindelo, quando eu era ainda pré-adolescente, como se diz agora. Mais tarde, depois de um tempo em Porto Novo, regressou para ser nosso vizinho, na Editora Nazarena. Nessa época, já jovem, comecei a conhecer o Sr. Eugénio que, embora pastor, para a malta da época era alguém com o qual podíamos manter um relacionamento não tão clássico e formal como aquele que tínhamos com o pastor da Igreja, por sinal meu pai.

Ti Djena revelou-se nosso camarada, com quem podíamos brincar, embora respeitosamente, e que aceitava alguns excessos típicos da juventude. Foi com muita alegria que a malta acolheu o Sr. Eugénio como pastor da Igreja do Mindelo, em substituição do meu pai, quando este passou à reforma. Estava eu no exterior.

De regresso à terra, ele perguntou-me o que tinha estudado. Disse-lhe que infelizmente, não pude fazer jornalismo, que foi sempre o meu sonho, e que tive de me contentar com a bolsa que o Governo me deu: biblioteconomia. Depois de pensar um pouco - "o que é isso, rapaz?", deve ter pensado aos seus botões - ele ripostou: "acho que isso vai acabar em jornalismo mesmo". Durante alguns meses, era com enorme prazer que o via chegar à nossa casa, em Monte Sossego, para trocar algumas palavras com o meu pai.

Pouco tempo depois nos encontramos na Praia e, para aumentar a amizade, o meu primeiro filho e o último dele são contemporâneos, mantendo ainda, e à distância, uma forte relação ainda que virtual. Falar com o Dr. Eugénio é uma cátedra, ouvi-lo é beber numa fonte de saber e compartilhar com ele é sentir que há homens e homens.

Um inglês que irradiou sabedoria e simpatia nestas ilhas na década de 60, Samuel Gay, recomendava não dar exemplos de homens vivos, porque, segundo ele, no dia seguinte eles falham e ficamos na vergonha. Para cumprir a regra, para mim, o Dr. Eugénio Duarte é uma excepção. Até o nosso próximo abraço, Ti Djena.

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