Nôs é património

Deixei passar a euforia pós-26 de Junho para visitar a Cidade Velha, nome pela qual gosto de a chamar, desde sempre, desde que a conheci. Como todo o cabo-verdiano, sabia que aquele lugar era património mundial, só faltava a classificação oficial para que a "cidade" estivesse politicamente alinhada. Só assim, os políticos e os turistas olharão para o berço da cabo-verdianidade com maior dignidade.

Foi uma visita diferente. Senti que as pessoas se sentem orgulhosas do reconhecimento, e que acreditam, agora sim, se olhará de forma diferente para Cidade Velha. Espero que sim, que definitivamente a Cidade Velha se assuma ou seja assumida como o principal cartão postal de Cabo Verde. O nosso umbigo está lá, a nossa história, a nossa língua, a nossa comida, a nossa visão global do mundo e, por isso, o nosso futuro.

Espero que os decisores públicos saibam "trabalhar" e "amar" a Cidade Velha. Sem medo de dizer não à violação do património, mesmo frente às chorudas propostas das imobiliárias, e sem medo de permitir uma exploração turístico-cultural respeitadora do valor histórico de local.

Passada a euforia da "vitória", estamos frente ao início de um novo futuro. Para testemunhar esse momento levei as minhas filhas, de 17 meses, para conhecer o nosso orgulho. E gostaram muito: pelo menos gostaram de comer xerén e fijón e apreciar o mar da Cidade Velha.