segunda-feira, agosto 17, 2009

The day after

A visita da secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton a Cabo Verde provocou um frenezim em muitos sectores da sociedade cabo-verdiana, de uma forma ou de outra. E com razão. Não é todos os dias que se recebe a segunda personalidade mais importante do Governo da maior potência mundial. Aliás, é a primeira vez que, de facto, um alto governante americano, para mais uma ex-primeira dama, realiza uma visita oficial a Cabo Verde.

A propósito, a visita foi mesmo oficial e quem conhece um pouco os meandros das relações internacionais e, principalmente, a política dos EUA sabe que nunca, mas nunca, um governante norte-americano iria dormir num país, reunir-se com seu homólogo e com o Chefe do Governo e ainda fazer o discurso - escrito, é bom lembrar - que Hillary Clinton fez, se Washington não quisesse reiterar o que ela afirmou, com a ênfase que Hillary patenteou. O Governo marcou pontos e o Primeiro-Ministro tem motivos para sorrir.

Em Washington, nada acontece por acaso, inclusive a informação de que foi Cabo Verde que fez o convite não foi revelada de ânimo leve. Só para se ter uma ideia, a notícia da visita da secretária de Estado foi veiculada no início de Agosto, mas os homens que a prepararam estavam no país há dois meses. Por agora, ao contrário do que tenho ouvido por aí, a imprensa americana - aquela que nos interessa, não a portuguesa - escreveu muito pouco ou quase nada sobre esta visita.
Será que tudo terminou nas escadas do avião? Como será o day after, como dizem os americanos? Não acredito que o Governo irá reservar o que ficou da visita apenas para actos de marketing, aliás normais em qualquer país do mundo. Caso contrário, o impacto da visita apenas se analisará à luz dos votos que forem conseguidos em Janeiro de 2011.
Chegou o momento das autoridades cabo-verdianas olharem de uma forma diferente para a nossa posição geográfica, no âmbito da geopolítica mundial. Percebi no discurso de José Maria Neves um novo pensamento: vou mostrar o que tenho feito para que me possam considerar um elemento activo e produtivo, em vez de vir pedir mais dinheiro para infra-estruturas. You´re right, man!

Caso o governo da Praia continue a trabalhar bem junto de Washington, Cabo Verde pode ganhar e muito em matéria de segurança. Fechado este dossier, a visita de Hillary já teria sido muito produtiva. No entanto, acredito que devemos olhar com outros olhos para os investidores americanos. Com uma cobertura política de Washington - acordo bilateral de cooperação, ao qual os americanos continuam avessos, por exemplo - podem chover investimentos e a valer.
Para tal, os nossos responsáveis terão de mudar em muito a mentalidade e a forma de trabalhar, porque estaremos face a pessoas de muito dinheiro, mas que exigem seriedade, cumprimento de prazos, agilidade burocrática e resultados. Resta saber se estamos dispostos a pagar este preço e oferecer um futuro melhor à próxima geração ou se preferimos ficar a bater à porta de investidorzinhos que, depois de falharem nos seus países, procuram novos mercados sob o subterfúgio da apelidada internacionalização da economia. A deles!

Sem comentários: