sábado, fevereiro 20, 2010

Carta ao Candidato

Esta carta enviada ao Candidato por Hermens Fernandes, da chamada 'Santa Rebelião", no Brasil, pode aplicar-se que nem uma luva em Cabo Verde em ano pré-eleitoral. Por isso, e como a subscrevo também, tomo a liberdade de a publicar.

Prezado Candidato

Sinto muito em lhe dizer que não poderei hipotecar o apoio da minha congergação à sua candidatura. Por uma questão de princípios, deliberámos deixar que os nossos irmãos exerçam a sua cidadania sem qualquer interferência, optando pelos candidatos que melhor lhes parecer.

Por favor, não insista. Não adianta oferecer ofertas, novos instrumentos ou aparelhagem para a igreja, material de construção ou coisa parecida. Os votos do nosso povo são inegociáveis. Não me vejo em condição de subestimar a inteligência do meu povo.

Se quiser o voto de alguém, conquiste-o, fazendo por merecer. Não venha propor representar o nosso segmento e defender os interesses da nossa congregação. Este argumento não funciona connosco. Defenda os interesses populares, a justiça, o direito e os valores que representem o interesse de toda a sociedade, e não apenas de um segmento religioso.

Também não venha apelar para o medo, dizendo que os valores da família precisam ser defendidos, e que, por isso, a sua eleição é tão importante. Não cremos que qualquer lei, por mais imoral que seja, ponha em risco nossa liberdade religiosa, ou o bem-estar familiar. Terror não nos convence.

Infelizmente, pode haver líderes cristãos dispostos a negociar e a ceder ao assédio dos candidatos. Mas antes de procurá-los, pense bem se é certo aproveitar-se da ingenuidade do povo e da falta de princípios dos seus líderes.

Voto não se compra, conquista-se.

E mais: se além de candidato, você também for “líder de alguma congregação”, não use o seu título para fazer propaganda política. Isso é um mau serviço ao Evangelho e quem o vai aplaudir é o capeta.

Espero ter deixado bem claro a nossa posição. Não se ofenda. Não se trata de intransigência, mas de princípios. Talvez você não esperasse esbarrar com alguém que ainda defendesse tais princípios. Mas saiba que não somos os únicos. Como nos dias de Elias, Deus tem preservado um remanescente de pessoas fiéis e comprometidas com a verdade e a justiça.

Em tempo: a nossa congregação não está comprometida com nenhuma candidatura. O nosso púlpito não é palanque político. Se quiser visitar a nossa congregação, fique à vontade, mas não espere ser apresentado como candidato. Panfletar... nem pensar! Só se for do lado de fora, sem qualquer endosso do nosso ministério.

Que Deus levante homens em nossos dias, que a despeito do credo que professem, sejam éticos, sérios e comprometidos com esta e com as próximas gerações
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