quarta-feira, junho 22, 2011

Uma Palavrinha... do JAC


Pedi autorização ao meu grande amigo, com orgulho antigo colega de trabalho e homem de valor, José António Ceschin (JAC), para publicar este artigo da rubrica "Uma palavrinha", que periodicamente ele nos brinda por email. Também, mas sem autorização, vou revelar a idade do jornalista e comunicador com quem aprendi muito em dois anos de convivência, lado a lado, 70 anos.                                           Eu, Valéria e JAC, no estúdio ao vivo da Rádio CVC.

Por isso,O texto vale não só pela qualidade, mas pela experiência e lição de vida que carrega. Cinco estrelas.

                                                              JAC no estúdio.

A TECNOLOGIA E O DESEMPREGO

Quando me mudei para Miami, em 1998, tive que chamar um técnico da minha provedora de Internet para instalar o modem e o software no meu computador. Naquele tempo era assim. Hoje em dia a coisa está muito mais fácil e posso instalar tudo eu mesmo.

Mas, quando o técnico ligou meu computador, viu na tela uma foto de Montreal, e me disse que tinha sido caminhoneiro e que havia viajado muito, levando e trazendo cargas, entre Nova York e Montreal. Um dia, ele se cansou de ser caminhoneiro e resolveu fazer um curso de computação. O sindicato ajeitou tudo e o homem mudou de profissão. Em outras palavras, ele se reciclou, para não ficar pra trás.

Nos Estados Unidos e em muitos outros países do primeiro mundo, praticamente desapareceram certas profissões, como a de ascensorista e a de frentista de posto de gasolina, por exemplo.

Eu me lembro de que, quando morava em Houston, no Texas, em 1984, já era possível encher o tanque de combustível do carro sem falar com ninguém e sem ajuda de frentista, nem nada. Eu nem sabia direito o que era um computador, mas a bomba de gasolina já era um computador dos mais modernos. Desde aquele tempo, só é preciso colocar o cartão de crédito na bomba, encher o tanque e ir embora. O débito é feito automaticamente na conta do cartão, porque todos os estabelecimentos têm ligação direta com os bancos, via satélite. Em alguns lugares, nem é preciso ter cartão de crédito, e pode-se pagar pelo combustível na própria bomba, com dinheiro vivo. A bomba até dá o troco, se for o caso.

Deve haver milhares de postos de gasolina que são comandados por uma única pessoa, postos com uma dúzia de bombas, loja de conveniência e até lava rápido. Lá dentro, uma só pessoa fica na caixa para cuidar de tudo. E esses postos funcionam 24 horas por dia. Os próprios clientes abastecem seus veículos, compram como em um supermercado e podem lavar seus carros sem sair deles.

Cada vez mais estabelecimentos comerciais estão optando pelo sistema de “self check out”, isto é, auto pagamento da compra. Em supermercados e em redes de grandes lojas, como o Walmart e o Home Depot, por exemplo, o pessoal que trabalha na caixa já começa a ser dispensado, em favor de máquinas que atendem o cliente praticamente da mesma forma. Todos os artigos vendidos têm códigos de barras, que são lidos pelo computador. No caso de ser preciso pesar a mercadoria, o computador pesa e calcula o preço. É possível pagar com cartão de débito bancário, cartão de crédito ou com dinheiro vivo.

Nesses estabelecimentos, há sempre alguém supervisionando, para o caso de haver algum problema. Mas uma só pessoa controla até 10 máquinas. Isto é, nove pessoas perderam o emprego com essa história. Só que, para o cliente, é muito melhor e mais rápido, há menos filas e o custo é o mesmo. A empresa se beneficia de todas as vantagens que o computador oferece, isto é, ele não falta ao trabalho, nunca fica doente, trabalha 24 horas por dia sem reclamar, não tira férias, não tem nenhum direito trabalhista, não precisa ser promovido, nunca pede aumento salarial, não faz greve, não tem licença gravidez…

Nos aeroportos, há muito tempo que se pode fazer o “check in” num terminal de computador, que emite o cartão de embarque. Mas também se pode fazer o “check in” pela Internet, 24 horas antes do voo e imprimir o cartão de embarque em casa ou no escritório. Com isso, muita gente está perdendo o emprego.

Até os pilotos de avião estão com os dias contados. Você não acredita? Então, ainda não conhece os “drones”, que são aviões militares não tripulados, usados pelos Estados Unidos nas guerras do Oriente Médio e até nas fronteiras nacionais, contra a entrada de imigrantes ilegais. Os ”drones” que estão voando no Oriente Médio, são pilotados via satélite, por pessoas que estão em Washington, no outro lado do mundo…

Antigamente eu tinha que ir ao banco praticamente todos os dias. Hoje, passo meses e meses sem pisar no banco. É tudo feito pela Internet, diretamente de casa ou pelo telefone celular. Verifico meu saldo, transfiro dinheiro entre minhas contas e faço todos os meus pagamentos mensais com um simples clique do mouse. Até depósitos em cheque eu posso fazer através do meu telefone celular, direto de casa, do escritório, da rua, e até da praia. Muita gente perdeu o emprego por causa dessa facilidade que a Internet nos proporciona.

Aquelas garotas bonitas ou rapazes sorridentes que atendem no McDonald’s também estão sendo dispensados aos poucos. Em alguns lugares, o cliente já pode pedir o seu Big Mac num terminal de computador e sua comida será servida num instante. Afinal, o pessoal que está dando atendimento hoje no McDonald’s e em outros restaurantes do gênero não faz mais do que apertar alguns botões no computador, de acordo com o pedido do cliente. E, se é só para apertar botões, o cliente mesmo pode fazer isso.

Aquele motorista de caminhão que se tornou técnico de computação fez uma coisa que todo trabalhador deveria fazer: reciclou-se. Os ascensoristas deveriam reciclar-se, e os frentistas de postos de gasolina também. Qualquer um pode apertar os botões do elevador e não é preciso fazer faculdade para operar uma bomba de gasolina. Limpar o pára-brisa é coisa que o dono do veículo pode fazer sozinho e o nível de óleo dos carros modernos não baixa entre as trocas. E, se baixar, o computador de bordo seguramente vai avisar.

Telefone público praticamente desapareceu, e as linhas chamadas “terrestres”, isto é, as linhas de telefone residenciais, também estão desaparecendo. Na América do Norte e na Europa, os correios estão sofrendo prejuízos cada vez maiores, por causa da Internet. O progresso vai atropelando tudo e acabando com muitas profissões. Aquele que não se recicla, vai ficando obsoleto, inútil. É preciso reciclar-se! Você, acha que sua profissão está garantida?

Já existem no mercado muitos softwares de tradução e até o Google traduz todos os idiomas, gratuitamente. Mas eu não tenho medo de perder meu emprego ou de ficar obsoleto porque, como tradutor, sou muito melhor do que o Google…

JACeschin - jac@ceschin.com

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