terça-feira, julho 05, 2011

Cabo Verde, nha orgulho! I bô?


Antes de viver nos Estados Unidos não entendia com propriedade o patriotismo dos americanos. Na verdade, cheirava-me a "imperialismo exacerbado", para usar um termo bem característico da guerra fria.

Poucos anos depois, passei a entender e a admirar o patriotismo dos americanos e o orgulho que têm pela sua história, pelas suas pessoas, pela sua cultura, pela sua forma de viver, pela sua nação. Estando ou não de acordo com as medidas dos políticos, leis e decisões várias, certos ou não, "it doesn´t matter" como dizem, ou seja não importa, eles apoiam o seu país, as suas autoridades, as suas políticas, dentro ou fora.

Ao contrário, sempre me chamou a atenção o facto de em Cabo Verde, repito em Cabo Verde, o nosso patriotismo resumir-se à cachupa, grogue e música. Nunca senti, nos cabo-verdianos, orgulho pela nossa história, pelas mulheres e homens que lutaram por uma Nação livre e independente, mas também por aqueleas e aqueles que também moldaram a nossa cultura, a nossa identidade, a nossa língua,, pelos marinheiros e imigrantes que levaram o nome desse minúsculo país a muitas paragens do mundo.

Muitas vezes considerei-me um estranho na terra, precisamente por não entender como os meus compatriotas, a grande maioria claro, não se orgulham do que somos e temos. Não entendi nunca porque valorizamos apenas as coisas dos outros, olhando sempre para o que existe nos EUA, Portugal, Holanda, França, Luxemburgo. Até no futebol, deixamos de ir aos estádios, que agora são relvados e com boas instalações, para vermos jogos medíocres do campeonato português pela televisão.

Nos últimos dois anos e meio notei com agrado o surgimento de um certo orgulho em ser Cabo Verde e viver em Cabo Verde, particularmente por parte dos jovens que, por ironia do destino, para não dizer em consequência das más opções dos decisores políticos nesses 36 anos, quase nada sabem da história e do legado das ilhas. A juntar a isto, como disse um amigo, os chineses tiveram de vir para "obrigar-nos" a vestir camisas, blusas, saias, vestidos, usar toalhas, tapete de rato, copos, porta-chaves, etc., com as cores nacionais.

Em contra-mão, registamos a guerra dos políticos e seus paus-mandados em torno das cores nacionais: amarelo, verde, vermelho e preto ou azul, vermelho, amarelo e branco. Mentes pequenas que não conseguem ver que a história, a cultura e Cabo Verde são muito maiores e mais importantes, no tempo e no conteúdo, do que essas lutas estéreis.

Uma viagem pelas primeiras páginas de hoje dos nossos jornais online e não só confirmam essa realidade, apenas referência a discursos dos políticos. Triste!

Todos temos os nossos gostos, porque temos vivido os diferentes processos registados nesses 36 anos, mas o mais importante é ver o país. Felizmente que, embora timidamente,  a nova geração parece querer levantar a bandeira da nação cabo-verdiana. Como exemplo, um pequeno movimento tomou conta do Facebook nesta primeira semana, colocando a imagem da bandeira e outros símbolos nacionais. Para o próximo ano será melhor, com certeza, seremos muitos mais.

No sábado, assisti à Capeverdean Parade na cidade americana de New Bedford e pude apreciar como milhares de descendentes de cabo-verdianos se sentem orgulhosos da sua origem e como este patriotismo é respeitado e admirado pelos americanos. Enquanto comia um pastel e via muitas bandeiras de Cabo Verde desfraldadas, dizia para os meus botões: esses americanos devem pensar que em Cabo Verde também é assim, mas tristemente não.

Foi aí que constatei o seguinte: com mais de 200 anos de independência, os americanos de hoje, que não conheceram ninguém que tenha participado na luta pela libertação dos EUA, festejam o 4 de Julho como se a última batalha tivesse tido lugar na semana passada; enquanto nós, que temos muitos dos protagonistas da nossa luta de libertação vivos  e à mão, não damos o mínimo de importância a essa riqueza.

Acredito que no futuro será melhor, porque um povo sem história, nem heróis, não pode ser nunca uma nação unida, vitoriosa e indivizível. Viva 5 de Julho, nosso orgulho.

1 comentário:

Carlos Silva - TCV disse...

excelente abordagem do tema. Este patriotismo precisa-se é só ver quando se transmite um jogo do campeonato Português a euforia dos adeptos cá na terra e quando é Cabo Verde a jogar quase que não se manifesta. Há dias tive que comentar com o Mário Benvindo sobre os destaques que deram no telejornal por vários dias sobre os acontecimentos desportivos em portugal ignorando por completo o campeonato nacional, em que o Mindelense estava preste a conquistar o titulo. Mais uma vez parabéns pela forma como escreveste sobre a nossa terra.