terça-feira, janeiro 22, 2013

A máfia evangélica no Brasil



Com a devida autorização, respeito e admiração, publico um soberbo e divinamente inspirado texto escrito pelo Dr. José Sérgio Monteiro Fortes, filho de Assomada, Santa Catarina, a propósito das reportagens das revistas FORBES e VEJINHA, em relação ao património pessoal de pastores brasileiros e a profissão regiamente paga de pastor.


Diante de escândalo de tamanha magnitude, comparável ao do mensalão, que deu cadeia de 5, 10, 15 e 40 anos, fora pesadas multas, é assustador o silêncio, a passividade, a inércia dos tão propalados "30 milhões de evangélicos" brasileiros e respectivas lideranças.

Pastores sérios (e não são poucos), presidentes denominacionais destacados, líderes renomados, optaram pelo mutismo complacente ou anonimato conivente. Raros, com tímida discrição, se manifestaram os entregando à "justiça divina".

Curioso também que os próprios envolvidos não mostraram a cara até agora, para prestar contas e esclarecer a origem das escandalosas fortunas. Descoberto, o deputado federal, João Alves de Almeida (1963-1994), deu as caras para explicar sua ultrajante fortuna": mais de 200 bilhetes de loteria premiados! Bem explicadinho! Todo mundo acreditou.  Será que esses pastores também descobriram a sorte na loteria?

Mas voltando a essa atitude de silêncio e cumplicidade, ela é tão condenável quanto a reportagem, cujo conteúdo evidencia tipificação criminosa e incompatibilidade absoluta com tudo que Evangelho e Ética preconizam.

Seria por defesa e solidariedade corporativas? Seria por receio de se descobrir que também estão escandalosamente ricos? Seria medo da reação desses poderosos, donos de poder e dinheiro e acostumados ao jogo violento? Ou desejo de preservação de benesses, pequenos favores, migalhas ultrajantes, convites "distintos", simpatias?
                 
 O que mais revoltava nossa geração era a prática condenada por Karl Marx de "exploração do homem pelo homem", princípio inspirador dos movimentos de libertação nacional no mundo todo.

E existirá exploração mais sórdida que homens violentarem outros em nome de DEUS, pela manipulação das Escrituras Sagradas, do aproveitamento despudorado da boa fé em nome da Fé, locupletando-se de dinheiro sagrado doado para DEUS, na forma de dízimos e ofertas, extorquidos tantas vezes sem dó nem piedade?

A Seus seguidores JESUS disse que não tinha "onde reclinar a cabeça"; o bispo lamenta a falta de visão executiva porque ele, bispo, vive em mansão de 41 suítes. JESUS mandou pedir emprestado um jumentinho para ir a Jerusalém; o apóstolo lamenta tamanha falta de gestão empresarial, porque ele, apóstolo, se desloca em moderno helicóptero particular.

Talvez sintamos que nada se pode fazer. Afinal os denunciados têm poder econômico cobiçado e cortejado pelo mercado. Quem quer se indispor com quem tem dinheiro, poder, televisão, mídia? Só tolo! Quem ousou enfrentar Anás, Caifás e Pilatos? Deixa crucificar o Inocente. Ou como a mulher de Pilatos o aconselhou por "SMS": "Fica fora dessa questão...".

Mas vamos denunciar. Protestar. Panfletar. Nos inconformar. Fazer passeatas. Manifestações de repúdio. Vamos encher as redes sociais com nossa insatisfação, nossa revolta. Vamos repudiar esse falso evangelho. Desmascarar as intenções e motivações desses falsários. Ou como sugeriu Rita Lee, que graças a DEUS nem é "bispa" nem "apóstola": "...Fazer greve de fome, guerrilhas, motim, perder a cabeça".  Afinal, pelo Evangelho de JESUS CRISTO, ainda que de forma figurada, vale "roubar os anéis de Saturno".

E se instituições eclesiásticas tidas como sérias, se igrejas ditas históricas, se movimentos religiosos confiáveis se acovardarem e se silenciarem, vamos imitar nossos irmãos do III e IV séculos, diante dos conchavos da igreja dominante: substituir templos que atendem a megalomania desses falsários pela sala de estar de casas simples e modestas; congregar-se em pequenos grupos e comunidades; organizar movimentos de reação, fora dos quintais dos vendedores do evangelho-mercadoria-produto e seus acólitos. Vale lembrar que o Cristo destruiu o conceito de lugar específico e exclusivo de adoração: "Os verdadeiros adoradores adoram em espírito e em verdade".  Qualquer lugar!

 Ou fazemos isso ou corremos o risco da vala comum. Demais a mais, seria ultrajar e desonrar homens como João Dias, Luciano de Barros, Álvaro Andrade, Joaquim Lima, Jim Kratz, Roy Henck e tantos outros, que por décadas serviram a DEUS e ao próximo com abnegação e sacrifício. Do pouco que recebiam, e mal dava para sustento da família, ainda assim repartiam com alegria com quem precisasse. Viviam o que pregavam, pregavam o que viviam. Não deixaram bens materiais. Sua riqueza foi de caráter, de exemplo, de integridade, de desprendimento.

Você deve conhecer outros tantos. Por eles, pelo que cremos, pelo Evangelho, não podemos nos calar cumplicemente, covardemente. Viver o Evangelho, como sempre diz o Prof. Luis Melancia, é estar em "estado de tensão". Ou o Evangelho causa tensão que provoca mudança e gera transformação, ou não é Evangelho.


 J. Sergio Fortes

São Paulo, 21/1/2013

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