Com a devida autorização, respeito e admiração, publico um soberbo e divinamente inspirado texto escrito pelo Dr. José Sérgio Monteiro Fortes, filho de Assomada, Santa Catarina, a propósito das reportagens das revistas FORBES e VEJINHA, em relação ao património pessoal de pastores brasileiros e a profissão regiamente paga de pastor.
Diante de escândalo de tamanha magnitude,
comparável ao do mensalão, que deu
cadeia de 5, 10, 15 e 40 anos, fora pesadas multas, é assustador o silêncio, a
passividade, a inércia dos tão propalados "30 milhões de evangélicos"
brasileiros e respectivas lideranças.
Pastores sérios (e
não são poucos), presidentes denominacionais destacados, líderes renomados,
optaram pelo mutismo complacente ou anonimato conivente. Raros, com tímida discrição,
se manifestaram os entregando à "justiça divina".
Curioso também que
os próprios envolvidos não mostraram a cara até agora, para prestar contas e esclarecer
a origem das escandalosas fortunas. Descoberto, o deputado federal, João Alves
de Almeida (1963-1994), deu as caras para explicar sua ultrajante fortuna":
mais de 200 bilhetes de loteria premiados! Bem explicadinho! Todo mundo
acreditou. Será que esses pastores também
descobriram a sorte na loteria?
Mas voltando a essa
atitude de silêncio e cumplicidade, ela é tão condenável quanto a reportagem, cujo
conteúdo evidencia tipificação criminosa e incompatibilidade absoluta com tudo
que Evangelho e Ética preconizam.
Seria por defesa e
solidariedade corporativas? Seria por receio de se descobrir que também estão
escandalosamente ricos? Seria medo da reação desses poderosos, donos de poder e dinheiro e acostumados ao jogo
violento? Ou desejo de preservação de benesses, pequenos favores, migalhas
ultrajantes, convites "distintos", simpatias?
O que mais
revoltava nossa geração era a prática condenada por Karl Marx de "exploração do homem pelo homem",
princípio inspirador dos movimentos de libertação nacional no mundo todo.
E existirá exploração
mais sórdida que homens violentarem
outros em nome de DEUS, pela manipulação das Escrituras Sagradas, do aproveitamento
despudorado da boa fé em nome da Fé, locupletando-se de dinheiro sagrado doado
para DEUS, na forma de dízimos e ofertas,
extorquidos tantas vezes sem dó nem piedade?
A Seus seguidores JESUS
disse que não tinha "onde reclinar a cabeça"; o bispo lamenta a falta de visão executiva porque ele, bispo, vive em mansão de 41 suítes.
JESUS mandou pedir emprestado um jumentinho para ir a Jerusalém; o apóstolo lamenta tamanha falta de gestão
empresarial, porque ele, apóstolo, se
desloca em moderno helicóptero particular.
Talvez sintamos
que nada se pode fazer. Afinal os denunciados têm poder econômico cobiçado e
cortejado pelo mercado. Quem quer se indispor com quem tem dinheiro, poder,
televisão, mídia? Só tolo! Quem ousou enfrentar Anás, Caifás e Pilatos? Deixa
crucificar o Inocente. Ou como a mulher de Pilatos o aconselhou por "SMS":
"Fica fora dessa questão...".
Mas vamos
denunciar. Protestar. Panfletar. Nos inconformar. Fazer passeatas.
Manifestações de repúdio. Vamos encher as redes sociais com nossa insatisfação,
nossa revolta. Vamos repudiar esse falso evangelho. Desmascarar as intenções e
motivações desses falsários. Ou como sugeriu Rita Lee, que graças a DEUS nem é "bispa"
nem "apóstola": "...Fazer greve de fome, guerrilhas, motim, perder
a cabeça". Afinal, pelo Evangelho
de JESUS CRISTO, ainda que de forma figurada, vale "roubar os anéis de
Saturno".
E se instituições
eclesiásticas tidas como sérias, se igrejas ditas históricas, se movimentos
religiosos confiáveis se acovardarem e se silenciarem, vamos imitar nossos
irmãos do III e IV séculos, diante dos conchavos da igreja dominante: substituir
templos que atendem a megalomania desses falsários pela sala de estar de casas
simples e modestas; congregar-se em pequenos grupos e comunidades; organizar movimentos
de reação, fora dos quintais dos vendedores do evangelho-mercadoria-produto e
seus acólitos. Vale lembrar que o Cristo destruiu o conceito de lugar específico
e exclusivo de adoração: "Os
verdadeiros adoradores adoram em espírito e em verdade". Qualquer lugar!
Ou fazemos isso ou
corremos o risco da vala comum. Demais a mais, seria ultrajar e desonrar homens
como João Dias, Luciano de Barros, Álvaro Andrade, Joaquim Lima, Jim Kratz, Roy
Henck e tantos outros, que por décadas serviram a DEUS e ao próximo com
abnegação e sacrifício. Do pouco que recebiam, e mal dava para sustento da
família, ainda assim repartiam com alegria com quem precisasse. Viviam o que
pregavam, pregavam o que viviam. Não deixaram bens materiais. Sua riqueza foi
de caráter, de exemplo, de integridade, de desprendimento.
Você deve conhecer
outros tantos. Por eles, pelo que cremos, pelo Evangelho, não podemos nos calar
cumplicemente, covardemente. Viver o Evangelho, como sempre diz o Prof. Luis
Melancia, é estar em "estado de tensão". Ou o Evangelho causa tensão
que provoca mudança e gera transformação, ou não é Evangelho.
J. Sergio
Fortes
São Paulo, 21/1/2013
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