Numa recente viagem ao Fogo, fui à fantástica Chã das Caldeiras ver o imponente Vulcão, sem dúvida um presente de Deus às ilhas. O caminho é para quem tem um carro todo-o-terreno e costas saudáveis para aguentar os solavancos.
Chegado ao lugar, com mais três colegas, quisemos comer: descubri que há apenas dois restaurantes, o menú é exíguo, sem qualquer prato de terra e o serviço demorado. Pedi um petisco e me disseram que tinha apenas queijo gouda com azeitonas !!! ou seja tudo importado. Pior fiquei ao saber que o restaurante não tinha vinho de Chã branco, cuja fábrica fica a 50 metros.
No regresso, ao olhar para aquele monstro que me deixou boqueaberto frente a tanta beleza, vieram à minha mente os números e os discursos sobre "turismo, motor do desenvolvimento de Cabo Verde". E pensei: será que estamos falando sério? Que turismo, quando o nosso maior ícone está abandonado a meia dúzia de aventureiros que apenas podem ir, ver o vulcão e regressar num pé porque a Chã das Caldeiras não tem condições para receber turistas??!!
Praias de que tanto nos ufanamos abundam por aí, mas quantos vulcões como o do Fogo há mundo, ao qual se juntam a produção de um vinho de tão elevada qualidade e toda a beleza de uma ilha no meio do Atlântico? Se queremos que Cabo Verde seja, de facto, um destino turístico, é hora de começar a trabalhar, primeiro, escolhendo os nossos verdadeiros destinos turísticos. Em segundo lugar, comecemos a criar verdadeiros produtos turísticos e não inventemos motivos para continuarmos participando em feiras internacionais, em troco de algumas compras no exterior, sem dúvida de produtos de melhor qualidade que os made in China.
5 comentários:
Olá!
O seu infeliz episódio só prova que três décadas depois ainda se faz quase tudo à amador nas ilhas.
É uma pena porque os concorrentes mais directos vão inovando e nós...
Prezado Amilcar, obrigado pelo seu comentário. Tenho visitado o seu blog e gosto muito.
Abraço das ilhas.
Caro Alvarito
Obrigado por visitar e falar do nosso Vulcao. Sendo voce, caboverdiano, nao natural do Fogo, falando assim, ninguem vai achar que é bairrismo. Mas como conseguiu chegar à Chã. E as estradas? Quantos metros de alcatrão encontrou? Viu alguma coisa do sec. XXI?
Mas o que mais doi, é que, as pessoas estao confortadas, pensando que estao a viver nos EUA de Cabo Verde. Triste. A nossa ilha do Fogo ser repensado.
Alvarito, desculpe este desabafo.
Um abraço,
José Heleno
As tuas palavras são sábias, estimado Zé Heleno. A grande questão é de quem é a culpa? Ou quem tem a responsabilidade de fazer algo? Sou daqueles que pensam que a responsabilidade de rentabilizar, no bom sentido, o vulcão, sem dúvida o nosso melhor produto turístico, é da inciativa privada. Ao criar iniciativas, esse sector poderá exigir contrapartidas do governo.
Abração.
Apenas conheço de Cabo Verde a Ilha do Sal, lamentavelmente (e sendo tão turística, apenas vejo que existe interesse em criar algo de mais chamativo junto das praias...). Do resto, apenas por fotos que vou vendo. Mas a culpa também é do turista, que apenas pensa em praia... e praia... e praia... Se houvesse uma procura mais insistente de outro tipo de paisagem - que Cabo Verde também tem, estou convencida que se iriam criando as necessárias estruturas...Como grane simpatizante de Cabo Verde e da sua gente, tentarei conhecer muito mais.
Um abraço desde Portugal!
Vanda
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