quarta-feira, abril 08, 2009

A utopia

Esta é talvez a primeira vez que, num texto e publicamente, me refiro ao meu ambiente de trabalho, embora ao de leve e com a distância que a prudência recomenda. Por ocasião do 25º aniversário da Televisão de Cabo Verde, muitas, mas muitas mesmo, são as pessoas que se têm aproximado de mim para criticar a TCV, principalmente os jornalistas porque, para os "especialistas" dos cafés, televisão é feita apenas por jornalistas. Por aqui começam errado, mas o que fazer?

Eu também tenho as minhas críticas e sei que pode-se e deve-se ter uma melhor Televisão. Foi precisamente por ter a noção exacta do problema que aceitei o desafio de tentar ajudar a melhorar a RTC naquilo que puder e souber, tanto na rádio como na televisão. Sem ser nenhum salvador da casa. No entanto, sei separar as coisas.
O que me motiva a redigir estas notas é o facto das pessoas exigirem uma comunicação social cabo-veridana à altura da concorrência estrangeira que nos entra casa adentro, através da Zap e da internet.
Sem pretender ser corporativista, gostaria de perguntar se temos hospitais e profissionais de saúde à altura dos que encontramos no estrangeiro; se a nossa arquitectura alguma vez ganhou um prémio no exterior; se os nossos artistas vencem os Grammys anualmente e vendem milhões (no estrangeiro, claro); se os nossos intelectuais criam correntes e marcam gerações; se os nossos engenheiros civis são tão bons que impedem a vinda de empresas portuguesas e chinesas; se os nossos professores são os melhores ao ponto de os alunos falarem muito bem o Português; se os nossos políticos são tão brilhantes que Obama, Lula, Brown, Angela e Sarkozy podem agendar uma cimeira em Cabo Verde para apreciar a performance deles.
Não se espantem! Não pretendo dizer que a comunicação social está bem - pessoalmente creio que podemos e devemos fazer muito mais. Também não pretendo inferir que não possuimos excelentes médicos, arquitectos, engenheiros, intelectuais, músicos, professores ou políticos. Não!
Pretendo simplesmente dizer que Cabo Verde tem aquilo que o seu desenvolvimento lhe permite, quer queiramos, quer não. O resto é basofaria de criol. E utopia!

3 comentários:

Fonseca Soares disse...

Álvaro, escusado será dizer que estou totalmente de acordo com a ideia deste teu post! Que eu costumo dizer aos que me fazem as mesmas críticas, que a nossa comunicação social não é mais do que o 'espelho da sociedade que temos hoje'... em todos os sentidos. Que também estou de acordo que não temos aquilo que merecemos, que queremos, que desejamos... Sem a ideia de corporativismo, reconhecendo conscientemente, que muitos não dão tudo o que podiam, e que poderíamos estar um pouco melhores. O certo, certíssimo é que não podemos, de maneira nenhuma, estar como uma BBC ou uma CNN (para só citar dois exemplos)... Kms de distância impedem sequer qualquer semelhança!

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Fonseca, obrigado pela visita e pelo comentário. 100% de acordo.

Helena Fontes disse...

Oi, Alvaro, saudades tuas. Já lá vão mais de 10 anos, não?

Concordo com o teu post. E a receita aplica-se em Portugal, quanto ao conteúdo das noticias veiculadas.
A mim faz-me impressão como divulgam as noticias, que são trabalhadas pela metade, pelo lado sensacionalista, e sem contraditório e confirmação da fonte.
Há de facto uma autofagia das notícias, que de tanto de serem marteladas diariamente nos media, passam a ser verdades, mas apenas por fora... o conteúdo diluiu-se na pressa de vender.
Como disse há tempos o jornalista luso, obreiro do projecto RTP África, Pinto Coelho, já não se faz verdadeiro jornalismo, nem tão pouco o de investigação. Este está comprado pelos grandes grupos económicos e políticos.
Enfim, cada povo tem o jornalismo que quer e que compra.

Saudações cá da Metrópole.
Força

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