sexta-feira, outubro 30, 2009

Dependência

Uma visita diária aos nossos jornais online e blogs - coisa que faço raramente por falta de tempo - e um auscultar atento às conversas de cafés levam-nos a concluir que todos reclamamos do Estado, diga-se o Governo, porque poucos são os que conseguem diferenciar as duas entidades. Tudo se esbarra na célebre frase: "falta de apoio do governo".

No outro dia, li uma declaração no mínimo caricata, para não dizer triste, de um conhecido empresário que, depois de ver o nome da sua empresa estampado mundo fora como fruto do contrato de patrocínio que assinou com uma entidade, chegou ao cúmulo do descaramento de dizer que devido à crise o Ministério das Finanças devia avançar com o dinheiro... Ou seja, uma empresa privada faz um contrato e como não cumpre, o caloteiro passa a bola para o Estado.
A dependência em todos os sentidos do cabo-verdiano em relação ao Estado é gritante e penosa. Sou defensor do Estado necessário: por um lado, prático, serviçal e facilitador - como é o Estado nos EUA, apesar das suas deficiências - e, por outro, social e supletivo como o é nos países nórdicos. As outra opções, para mim, claro, são para fazer boi dormir.

Em Cabo Verde, toda a vez que o Estado ameaça emagrecer, todo o mundo grita. Aliás, os que gritam, não saem, porque querem ficar. Pelo contrário, de todos os quadrantes pede-se por mais Estado, quando, alegadamente, a ideia seria a de pedir menos Estado.
É só escutar como todo o mundo grita por apoio do Estado, no entanto, esse apoio deve ser entendido como uma extensão do próprio Estado, em forma de subsídios, patrocínios, isenções. Mais curioso ainda é quando esses subsídios, patrocínios e isenções não são mais do que formas de pagar o funcionamento de um estrutura qualquer, alegadamente privada. Sem resultados na produção.

Esta situação preocupa-me por outro motivo: o privado se espelha no deficiente serviço prestado pelo Estado e, dizendo que não tem dinheiro ou que o Estado não o apoia, presta ainda pior serviço que os servidores da Administração. O pior é que esta tendência se afirmou, fez escola e é uma vergonha o serviço prestado pelos privados. Em um ano, devo ter sido bem servido duas ou três vezes, entre elas por uma ou outra empresa.

A iniciativa privada autêntica e virada para a produção de riqueza (não apenas para salários altos, twaregs, jantares regados e viagens na classe executiva, mas sim para a multiplicação da empresa) e um Estado necessário constituem a receita do desenvolvimento. Enquanto tal não for assumido, continuaremos a pensar que somos o que não somos.
Acredito firmemente que só a iniciativa privada de qualidade é motor de desenvolvimento. O Estado é a estrada ou, melhor, a auto-estrada.

1 comentário:

Amílcar Tavares disse...

Assino por baixo, caro Álvaro!