quinta-feira, abril 22, 2010

O sorriso dos porcos

O antigo presidente de Portugal Mário Soares voltou a repetir a tese por ele defendida em 1974 quando, frente à postura íntegra de Pedro Pires e demais membros da delegação do PAIGC que negociava a independência de Cabo Verde, abandonou as discussões por falta de argumentos. Os anos se passaram e ele teve de engolir muitos sapos, ao ponto de, numa entrevista que me concedeu no Palácio de Belém em Julho de 1991, ter afirmado que "os dirigentes de Cabo Verde sempre se mostraram pessoas com sentido de Estado e que viabilizaram um país que se afirma e que é respeitado no mundo".

Agora ele volta a defender a sua tese, ainda que em jeito de despedida, o que é normal. É a opinião dele, que é correcta ou não, verdadeira ou falsa, é outra história. Um detalhe: os portugueses ainda hoje choram as colónias apenas por grandeza porque, apesar de terem tido sob seu domínio muitos territórios (entre eles os ricos Brasil, Angola e Moçambique), continuam a ser os mais pobres da Europa.

Continuando. A mim o que me entristece não é a frase de Mário Soares, mas sim ver tantos cabo-verdianos repeti-la e considerar, primeiro, que tal seria verdade (Cabo Verde equiparado às regiões autónomas) e, segundo, que o país estaria melhor. Um pequeno exercício: se em 500 anos não passámos de uma plataforma de reciclagem de dirigentes mulatos da Administração Pública para as então colónias, quem garante que em 35 anos a coisa seria melhor?

Acreditar em fábulas é fácil, mas que o barulho se ouve, lá isso se ouve, geralmente de fracassados e de quem, mesmo chegando ao Aeroporto de Lisboa e ser tratado como qualquer outro africano devido apenas à cor da pele, feições e cabelo, continua a pensar que poderia ser europeu. É o sorriso dos porcos.

5 comentários:

Galileu disse...

Concordo com o artigo, mas deixo uma pergunta no ar, porquê que andamos apostar forte numa parceria especial com a união europeia? Em relação a CDAO estamos a marcar passo!Se calhar Dr. Soares tem razão, pois assim não precisávamos de tantos esforços a mesma, não acho que ele disse isso com más intenções, até Aristides Pereira(o principal mentor da independência, após Cabral) confessou que sentiu esse sentimento nalgumas franja do povo cabo-verdiano.

Daniel Leite disse...

É só olhar para a foto anexa ao artigo para entender que não vale a pena responder a tal disparate! "Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio." Mas o insensato externiza o que lhe vai no coração! Até hoje ele deve se lamentar a perda de colónias tão importantes para o bem estar dos Portugueses! Que pena! Ele que engula a sua inabilidade de negociar e vá para casa, pois já ouvimos disparates demais da sua boca!

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Prezado RevLeite, gostei muito do recurso aos sábios provérbios. Caro Galileu, a questão da parceria especial não tem nenhuma relação com a não independência. Essa mesma parceria (igualzinha) que CV procura com a UE é aquela que a UE tem com o Brasil, Marrocos, India e Japão, por exemplo. E que eu saiba nenhum desses países são ou querem ser europeus, muito menos portugueses. Os EUA têm uma parceria especial com a China e nem por isso. Grande abraço e voltem sempre.

Amílcar Tavares disse...

Excelente artigo caro Álvaro! Quando oiço esses argumentos tontos, ponho-me a pensar nos madeirenses e nos açorianos que se sentem descriminados em relação aos do continente pois se eles que são iguaizinhos são discriminados, não vejo porque é que os escurinhos cabo-verdianos teriam um trato melhor...

Mais informação: de acordo com uma sondagem que foi publicada pelo semanário português Sol em Setembro de 2006, 28% dos portugueses defendiam que Portugal e Espanha deviam ser um só país, 27% dos entrevistados diziam que a economia portuguesa ficaria melhor nesse hipotético Estado unido, mas só pouco mais de 15% estariam dispostos a aceitar como Chefe de Estado Juan Carlos I. Pela sua parte, a revista espanhola Tiempo, em Outubro de 2006, publicava que 45,6% dos entrevistados espanhóis estariam a favor da união.

Mário Soares, que não tem muito que fazer, devia era estar a especular sobre isso. Penso eu de que...

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Obrigado pela vista e sempre acertada opinião. Vejo que regressaste de Florença em força! Grande abraço.