A agressão ao pastor nazareno José Heleno Pereira na zona de Bela Vista, arredores da cidade da Praia, foi apenas mais um capítulo da violência que assentou arraiais em Cabo Verde, com particular incidência na capital do país. A narração do ataque é igual à de tantos outros e acredito que assumiu estatuto de notícia por a vítima ser um pastor, ou seja um homem de paz.
Na verdade, este foi o único motivo que deve ter levado os meios de comunicação a noticiar o facto. É que, recorrendo à máxima jornalística de que "se um cão morde um homem não é notícia, mas se o contrário acontece então vira manchete", dentro de pouco tempo em Cabo Verde as agressões a cidadãos e a violência urbana deixam de ocupar as primeiras páginas dos jornais, telejornais e noticiários das rádios.
Em Cabo Verde, querendo ou não, vive-se hoje a banalização da violência. Os "caçubodis" ou tentativas de assaltos são temas diários nas conversas de café, festas, salões de beleza, barbearias e até nos estádios de futebol. Parece que o nosso Big Brother é a fuga aos assaltos, em que cada um inventa formas de evitar ataques, seja chegando mais cedo à casa, não sair à noite, estar sempre acompanhado de alguém, uso de armas, etc.
No meio desse labirinto em que discursos e realidade parecem andar em velocidades diferentes, há um aspecto que me chama a atenção: quando falo com pessoas com alguma responsabilidade, nomeadamente no terreno, não sinto firmeza nas soluções.
Sou um leigo na matéria, mas como observador social, tanto em Cabo Verde como no exterior, acredito que vários são os factores que estão na origem dessa situação. Muito mais do que o desenvolvimento(!), como dizem alguns, o aumento da população, o tráfico e consumo de drogas, a pobreza, a chegada de deportados, o consumismo desenfreado, entre outros.
Do meu ponto de vista, há outros factores que tanto psicólogos e outros cientistas sociais como as autoridades preferem não citar, ou não dar tanta importância, tanto em Cabo Verde como noutros países: o défice de educação em casa, a falta de autoridade dos pais e do sistema de ensino, a perda de valores, a falta de autoridade do Estado, a ausência de policiamento e o deficiente, para não dizer muito débil, sistema de penalização dos infractores.
Do meu ponto de vista, considero que as primeiras medidas passam por uma presença permanente e em força de polícias na rua e um endurecimento de penas, mesmo para aqueles que participarem em assaltos frustrados. Sem mais fora, workshops, nem seminários para discutir o óbvio e que já foi posto em prática, por exemplo em New York e, mais recentemente, no Rio de Janeiro.
É deprimente circular por toda a cidade da Praia e arredores e não encontrar um único polícia na rua. No entanto, se alguém for apresentar uma queixa ou tratar de um assunto numa esquadra qualquer, depara-se com quatro ou cinco agentes em amenas cavaqueiras. Digo por experiência própria.
Deixemos de tretas: a violência urbana combate-se com forte policiamento, intervenções rápidas e penas duras. Neste particular, volto a defender o que sempre disse, apesar da oposição dos castrenses: as Forças Armadas deviam ser transformadas numa grande força de defesa das nossas costas (Guarda Costeira) e das nossas cidades, neste último caso através de uma presença marcante nas ruas. Também não estaremos a inventar, vejam-se os exemplos da Suíça e da Costa Rica.
Os demais factores podem ser combatidos através de uma maior autoridade dos pais, regresso dos valores ao seio familiar e à escola, melhoria das condições de vida nos bairros pobres, criação de espaços de diversão, promoção do emprego e instalação de uma efectiva rede de prevenção e tratamento que envolva igrejas, organizações não governamentais, grupos sociais, autarquias, departamentos governamentais, etc.
A realidade mostra-nos que os resultados decorrentes dessas últimas acções não acontecem imediatamente, podendo ser visíveis apenas na próxima geração. Por agora, cabe ao Governo, como responsável pela segurança dos cidadãos, impor a autoridade do Estado através de um luta sem tréguas pela força, com policiamento permanente e reforçado e endurecimento das penas.
Sem pretender ser messiânico (!!!), ou acabamos com os violentos agora, ou eles acabam com o nosso país, a paz e o desenvolvimento tão desejado a meio e longo prazos.
PS: Este post foi escrito antes do primeiro-ministro anunciar as novas medidas do Governo para combater a violência.
PS: Este post foi escrito antes do primeiro-ministro anunciar as novas medidas do Governo para combater a violência.
2 comentários:
Tens razao. Violencia nao pode ser combatida com conversas de gabinete e planos cativantes sem meios ou vontade politica para execucao. Tal ameaca social requer a execuxao de um plano de acao imediato, consistente, e suficientemente preventivo e punitivo, tendo em conta a seguranca dos cidadaos. Que haja sabedoria e sentido de urgencia da parte dos governantes para um combate agressivo a violencia que se deflagra celere. Parabens pelo blog. Votos de muita saude. Sds. BCM
Infelizmente é esta a realidade que se vive hoje em cabo Verde, realidade que ao longo do tempo tentaram esconder, ou simplesmente ignorar porque só acontece com "os outros". Caro amigo e mestre Alvaro, é com muita atenção que li o teu post, onde se encontra em letras tudo aquilo que se encontra nas ruas do nosso pais, desejo-te muita saúde e que continues sempre aquele Alvaro bem disposto e amigo que todos nós conhecemos, um grande abraço de saudades.
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