segunda-feira, junho 24, 2013

DIÁRIO DE INDIANÁPOLIS No. 2


Ao acordar encontrei uma manhã linda, com uma vista espectacular a partir do meu quarto de hotel. Os contrastes são muitos e a circundar o centro de betão de Indianápolis, uma região montada para servir grandes conferências internacionais, a água e o verde permitem respirar.

O dia prometia ser bom a começar por um belo e suculento pequeno-almoço, no Sheraton, a convite dos tios Manuela e Jorge de Barros. Como seria de imaginar, a boa conversa fluiu amena, alegre e sempre com aquele toque de sabedoria do Dr. Jorge de Barros. Nas lembranças, a prima Manuela contou quando receberam de Cabo Verde uma caixa de sapatos cheia de pedaços de cuscus torrado. No regresso à casa, o tio Jorge "amolou" a boca para comer cuscus com uma boa chávena de café, mas  a surpresa foi terrível: os filhos Lena e Paulo tinham surripiado tudo e só ficou farinha. Kmida de terra é sabe!!!

Louvor e multiculturalidade


O culto das 10 marcou o início oficial da Assembleia Geral e foi aberta pelo seu presidente, o Superintendente Geral Dr. Eugénio Duarte. Na plateia, a esposa D. Maria Teresa dá sinais de recuperação e dela recebi um daqueles abraços gostosos. Lembrei-me de 1983, quando eu, saído do liceu, e ela ganhámos um concurso e entramos no mesmo dia no Instituto de Seguros e Previdência Social. Valeu!

A minha expectativa estava virada para ver como seria servida a Santa Ceia a cerca de 15 mil pessoas. Em pouco menos de cinco minutos, todo o mundo desfrutou daquilo que para mim deve ser uma festa e não um funeral, onde há que vestir fato e aparentar a cara de arrependimento para participar. Fiquei feliz.

Por outro lado, não fiquei muito contente com o louvor: uma igreja com delegações presentes de 159 países, com uma multicularidade que atrevo a dizer única em organizações do tipo, não pode cingir-se a um formato culturalmente americano e anterior à primeira metade do século passado. Era evidente que faltava algo.


De repente, subiu um coral africano e preparei-me para sentir os nossos ritmos e apreciar as vozes do continente da música. Surpreendi-me: os rostos estavam fechados, não mostraram a alegria africana. Conclui:  cantaram um hino tradicional de outra cultura que não lhes dizia nada. Continuo a pensar que o louvor é a expressão do nosso sentimento em relação a Deus e ele deve acontecer de forma natural. Se fosse possível, faria uma resolução nesse sentido à AG.

O almoço, ao contrário do que seria de esperar, ou não estivéssemos nós na rica América, não é o melhor momento, pelo menos para nós, crioulos. O jantar também não. Sentimos saudades dos refeitórios das nossas assembleias distritais e até comentei com o Rev. Adérito: "se serves isso na Assembleia de Agosto serás apedrejado". Felizmente há uns "escapes aqui e acolá", mas a barriga ressente.

A missão de um nazareno é como posso resumir a mensagem do Superintendente Geral Dr. Toler que de uma forma alegre e clara lembrou que somos limpos, chamados e comprometidos por Deus a fazer a sua obra. Grande momento!



Depois dessa "festa espiritual", vivi um momento particularmente importante: encontrei-me, pela primeira vez com o Dr. Mosteller, grande e velho amigo dos meus pais, cujo nome é ainda constantemente referenciado pela minha mãe. Ficou radiante ao ler o meu nome no crachá - "igual ao seu pai, que bom", disse -  e deixou estas palavras que não pude gravar, mas que tenho o Rev. Adérito Ferreira como testemunha: "seu pai era um grande homem, um grande homem de Deus, ele foi muito importante para mim, como tenho saudades dele!" Aos 95 anos, que completa amanhã, enviou uma mensagem em video de muita saudade para a minha mãe". Apesar de a foto não ter ficado boa - quem foi o fotógrafo? - publico-a como registo.

A seguir encontrei o Rev. Paul Stroud e D.Nettie e foi um momento para mais recordações. "Há como tenho saudades de Cabo Verde", disse-me o Sr. Stroud.


Adiante. No seu jeito simples, com uma" bolsinha do Calú" na mão como brinquei, o Dr. Eugénio Duarte vinha caminhando em nossa direcção quando viu o Dr. Mosteller. Aproximou-se do antigo missionário que ficou espantado com o facto de um Superintendente Geral ter vindo cumprimentá-lo. A humildade de ambos foi o que mais me marcou. Admirei a reverência de um veterano frente a um líder quase 40 anos mais novo, algo muito típico dos americanos, ao contrário de nós, crioulos, que gostamos de vulgarizar tudo. O Rev. Adérito pegou a "bolsinha do Calú" e saimos com o Dr. Eugénio em direcção ao hotel.

Para fugir ao jantar, eu e o pastor Adérito saimos à procura de um prato melhorzinho, mas com o centro comercial fechado - onde se pode comer barato - paramos no Shake and Stake para um bom momento. No meio da boa conversa, ele deu dois dedos de conversa pro telefone com a querida Ester e ainda felicitou Eliane, que foi finalista neste domingo.


Em dia de algum descanso, antes dos trabalhos que começam esta segunda-feira, alguns membros da delegação cabo-verdiana decidiram passear e tirar fotos. Claro, todos procuraram um fundo verde e com água. Sina de crioulo!!! O regresso ao hotel marcou o fim de um dia muito proveitoso. Para fechar ainda deu tempo para ver a segunda parte do jogo Nigéria-Itália, a contar para a Copa das Confederações.

Antes de deitar-me não podia esquecer-me de recarregar o computador, a bateria da máquina fotográfica, o móvel e o tablet que disponibilizaram a todos os delegados para facilitar o acesso ao metarial. Tecnologia "oblige". Boa noite!

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