quarta-feira, julho 10, 2013

O meu padrinho Sabino Lino Évora, ou melhor, Binau.

Há notícias de morte que nos deixam em sobressaltos e com muitas perguntas. Há outras que, pela natureza da pessoa que nos deixa, provocam uma estranha sensação de tranquilidade. 

Fui informado há momentos da promoção à Glória do meu bom padrinho, amigo, companheiro até de quarto em acampamentos de jovens, Sabino Lino Évora. Ele me conhecia desde que nasci, no Fortin, Espargos, mas eu vim a conhecê-lo apenas na adolescência. No entanto, os nomes de Nonô, Sabino, Rosinha e da demais "tribo" eram sempre citados nas conversas lá em casa. Gente especial.

Neste momento, ocorre-me fazer uma merecida vénia de muita amizade e respeito ao meu querido Binau. 

Quantas horas passadas madrugadas adentro na sua casa ao sabor de um chá da madrinha Rosinha e bolachas. Quantas discussões sobre Benfica, Sporting e Porto, quantas lembranças da amizade entre ele e os meus pais, quantas anedotas cujo teor não posso revelar aqui???!!! Quantas risadas, brincadeiras, abraços, conselhos ainda que em jeito de brincadeira? No domingo passado, numa festa de aniversário em Brockton, lembrava de quando ele se apresentava, com o seu humor afinado, nas Assembleias Distritais da Igreja do Nazareno: "Sabino para badius, Binau para sampadjudos".

Fica o legado de um homem de permanente humor, positivo, que amou a Deus, à sua Rosinha, à sua família, à vida, à sua comunidade. D boca dele não se ouviam acusações, embora tivesse as suas opiniões bem claras.

Culto, apaixonado pela história, principalmente de Israel, autor de três livros, Fernandinho, Lombianinho e Djalonguinho, Binau fica na minha memória como exemplo de vida, de camaradagem, de amizade. Um homem de coração grande. Era reconfortante chegar à casa dele, a qualquer hora do dia ou da noite, e ouvi-lo dizer: "Vai, bo ta bonitão, pá". (Ela e a madrinha me chamam Vai, desde criança).

A última vez que o vi foi em 2009 numa visita de apenas três horas ao Sal, mas em meio a uma agenda apertada, arranjei 10 minutos para dar-lhe um abraço, bem como à madrinha. Convidou-me logo para ficar para almoçar. Não foi possível. Quando sofreu o ataque ao coração, falei com ele por telefone, já em casa, e mesmo com o falar pausado, revelou aquela força interior que só os grandes têm.

Nesta hora de saudade, à querida madrinha Rosinha um beijão de consolo, à tribo Évora - Lígia, Eunice, Ester, Damariz, Gilberto, Moisés, Paulo, Eri e Ben-Hur, meus irmãos de peito, um abraço apertado e que sintam muito orgulho do pai, aos netos, ao irmão Tio Gilberto e demais familiares a minha solidariedade.  


É, pois, com tranquilidade que recebi a notícia da promoção à Glória do meu querido padrinho, aos 84 anos. O Sal, com certeza, saberá reconhecer este ilustre filho adoptado na hora di bai. Perdeu um filho adoptado especial, mas ganhou um mito.

Quando voltar à ilha, com certeza, sentirei a falta de Binau. 

"Servo bom e fiel, sobre pouco foste fiel, sobre muito serás colocado". 

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