sábado, setembro 27, 2014

All-inclusive, turismo de luxo e "not-inclusive", sem devaneios


Segundo o A Semana, afinal, o estudo do Banco Mundial concluiu que o all-inclusive em Cabo Verde é altamente recomendável. Já debati com muitas pessoas esse tema e desde sempre a minha opinião - expressa em alguns posts no FB - é que esta é, aliás, uma das poucas modalidades do turismo que Cabo Verde pode explorar com sucesso a curto e a médio prazos.
Não vi os detalhes do estudo, no entanto, em Cabo Verde o problema não está no all-inclusive, mas sim no facto de o país não poder alimentar esse sistema e ter quase nada para oferecer AGORA aos turistas a não ser um hotel com tudo dentro e praias em algumas ilhas. É verdade que o país tem muito potencial, só que não o pode oferecer por não estar preparado para o fazer. Senão vejamos: não consegue fornecer alimentos e bebidas aos hotéis, que têm de importar até água, iogurte, frutas, peixe, e tudo o resto; não há pacotes de diversão autênticos e que de facto interessem aos gestores (do ponto de vista financeiro e de atracção) e que cativem os turistas pela variedade; os poucos e incipientes pacotes, além de não serem muito competitivos, não conseguem satisfazer meio milhão de turistas que visitam o país a cada ano; fora dos hotéis, não temos um país turístico, desde sinalizações, museus ou centros de interesse abertos na hora que convêm aos turistas ou espaços libertos de pedintes que importunam os turistas; e finalmente, para além de muitas outras limitações, a qualidade do serviço prestado fora dos resorts é de péssima qualidade por não existir uma cultura de serviço, que é visível a começar na companhia aérea de bandeira.
Se o all-inclusive pode não estar a render o que se podia esperar não é pelo modelo - que tem levado milhões de dólares a países como República Dominicana, Porto Rico, México, Cuba, Jamaica, etc. - mas pela falta de capacidade de produção nacional que, a existir, conseguiria atrair e reter muitos mais recursos no país.

Finalmente, cuidado com discursos emocionais sobre turismo de luxo, por favor. Saibamos oferecer algo diferenciado e acessível a um público que apenas pode gastar algum durante uma semana porque se não conseguimos fazer render muito mais, POR AGORA repito, o all-inclusive por deficiências nossas, quanto mais o turismo de luxo…
Enquanto isso, continuemos pedindo a Deus para que nunca haja necessidade de os turistas recorrerem ao nosso sistema de saúde porque aí, sim, ficaremos com "no body-inclusive".
Como digo sempre, vamos a tempo de arrepiar caminho, mas com trabalho e criatividade, não com mais estruturas, workshops, consultorias ou expo´s que depois de encherem os telejornais e os egos terminam num relatório que ninguém lê.


PS: Em 2009 eu e alguns colegas visitamos o vulcão do Fogo, pedimos queijo di terra e nos deram queijo Gouda, perguntamos por um petisco e nos ofereceram azeitonas, não havia vinho de Chã apesar da adega distar 50 metros do local (quem quis foi a pé comprar a garrafa e regressou ao restaurante) e só havia para comer atum com … natas! Para sobremesa, só havia compota importada não sei de quê e café nem vê.lo. Ah, e tivemos de esperar quase uma hora…. isso é not-inclusive.

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