Depois de duas semanas e meia, Marina tinha descido dos 30 por cento e hoje, na véspera das eleições, as sondagens do Ibope e do Datafolha dizem que desceu para 24 por cento, o que lhe coloca no terceiro lugar. Ou seja, de provável presidente, Silva corre o sério risco de nem ir à segunda volta.
Acertei na previsão que, infelizmente para Marina e seus apoiantes, não lhe é favorável. A política, uma vez mais, fez o seu curso natural. Sem incidentes de maior - denúncias de corrupção no Brasil nunca tiveram impacto na política no Brasil - não houve mudanças num rumo marcado desde a pré-campanha: a muito provável vitória de Dilma Roussef.
Em política, fenómenos localizados e emotivos não provocam grandes alterações por muito tempo e tanto muitos analistas como os marqueteiros de Marina esqueceram-se desse princípio básico. Com um peso político de sensivelmente 20 por cento do eleitorado e um discurso inteligente, incisivo, bem articulado e com promessa e uma "nova polítiica", mas sem empatia nem propostas concretas - apenas críticas -, a assessoria de Marina não conseguiu manter o factor emocional Eduardo Campos, nem mostrar uma proposta que fosse superior à imagem e peso da antiga senadora.
Por outras palavras, só a imagem de Marina - que há pouco mais de um mês somou os seus 20 por cento e os 10 de Eduardo Campos, mais o factor emocional da morte de um candidato reconhecidamente promissor, mas que só agora dava os primeiros passos a nível nacional - não seria suficiente para impedir o aumento da direita, longe do poder há 12 anos, e combater a máquina de um partido que aparelhou o Estado a seu favor e explora até à exaustão a manipulação eleitoral, num país geneticamente corruptível desde sempre.
Sem o carisma, a trajectória histórica e o jogo de cintura de Lula e ostentando um Governo que, nos últimos quatro anos, tem falhado em quase todas as frentes, Dilma Roussef aproveitou, e bem, o que lhe resta do legado do seu antecessor: os milhões que passaram a ter comida e deixaram a pobreza extrema. A oposição esqueceu-se de que as consequências em matéria económica para o futuro do Brasil de programas que, até agora, dão peixe em vez de ensinar a pescar, não pesam na hora de escolher entre quem deu pão e quem nunca criou as bases para a redução da desigualdade naquele que é um dos países mais desiguais e mais ricos do planeta. Por isso, e por outros factores, Dilma Roussef deverá ser reeleita presidente, mas apenas no segundo turno.
O PT aprendeu rapidamente a "máfia da política brasileira" e não apresenta já valores na gestão da res publica diferentes dos da direita que dominou o Brasil durante séculos. Por isso, mesmo com os programas sociais que reduziram a pobreza no país, caso não consiga mudar o rumo dos acontecimentos e tirar o país das amarras da corrupção e da desigualdade social estrutural, Dilma poderá ser o último chefe de Estado petista.
A questão é saber como ela deixará o país em 2018: com bases que permitirão às classes mais favorecidas fazer o seu percurso de forma sustentada, ou seja sem a ajuda pública, ou à mercê de uma direita que, à luz da sua filosofia e de como deverá encontrar o tesouro brasileiro, voltará a aumentar o fosso entre pobres e ricos.
Se for esse o último cenário, o legado de Dilma não será o que ela terá sonhado desde os tempos em que lutou contra a ditadura.
Do outro lado, da direita personificada no PSDB - porque o DEM revelou-se mais corrupto que os demais -, a preocupação é ainda maior: se Dilma tem uma taxa de rejeição muito elevada (cerca de 30 por cento), aproximadamente 70 por cento dos brasileiros não querem a direita de novo no poder, apesar do seu peso nas finanças, na elite e na mídia.
Os analistas (e eu também) são quase unânimes em dizer que este último Governo da Dilma não fez bem o seu trabalho. Entretanto, a classe política, de todos os quadrantes, não dão sinais de conseguir transformar o Brasil num país sério, seguro, com qualidade de vida e estável, e muito menos colocá-lo na rota de um país desenvolvido. A pergunta é por onde anda a terceira via?
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