A propósito de um post publicado por mim no Facebook sobre a suspensão dos trabalhos da Assembleia
Nacional e na sequência de algumas mensagens, por via interna, de
amigos que muito aprecio e respeito, explico melhor a minha opinião.
1. As decisões políticas têm resultados práticos que extravasam o seu
alcance político, legislativo, financeiro ou económico. Elas podem - e
devem - motivar e orientar a comunidade, estimular atitudes, provocar
reacções, concentrar atenções e vontades. Para usar um exemplo, é comum dizer-se que a melhor arma política de um Presidente da República é a mensagem à Nação.
2. A suspensão das sessões durante esta fase de maior actividade
eruptiva do vulcão (mais duas ou três semanas, talvez) seria entendida
como um sinal a cada cabo-verdiano e à comunidade internacional de que a
Nação está concentrada numa situação que lhe sai completamente das
mãos, uma fatalidade da natureza e que não pode ser encarada pelo país
como, por exemplo, um mau ano agrícola.
3. Num parlamento em
tempo integral, podia-se optar por uma de duas opções, embora existam
outras: adiar a aprovação do OGE porque toda a lei tem uma excepção,
principalmente por causas naturais, portanto, não controláveis, ou impôr
um limite temporal radical para aprovação do OGE nem que para isso o
parlamento trabalhe a "desoras". Aliás uma situação que se tem repetido
por este mundo fora, como, por exemplo, nos EUA por ocasião do shutdown
de 2013. O Congresso trabalhou mais de 24 hora seguidas.
4.
Pergunto: como pode um primeiro-ministro e a sua equipa (segurança,
economia, finanças, etc.) concentrar-se no socorro às pessoas e bens
quando tem de responder a números e detalhes do OGE, recorrendo a um
sem-número de assessores, documentos, etc. Neste momento, as
responsáveis pelos sectores das finanças e economia já deviam estar, com
as suas equipas, a criar planos alternativos e a fazer contas e
projecções das necessidades dos próximos tempos. O ministro das Relações
Exteriores já devia estar numa roda viva de contactos à procura de
disponibilidades e apoios financeiros. Atenção: não digo que não estejam
a fazê-lo, aliás acredito que já tenham tomado essas iniciativas, mas
enquanto têm à perna perguntas da oposição que não vai aprovar o OGE -
tanto o Governo como a oposição e os cabo-verdianos sabem que assim é -
não poderão concentrar-se na situação da ilha do Fogo.
5. As
instituições do Estado não podem parar, não, como dizem os meus amigos,
mas há momentos, há situações e há, principalmente, sinais que devem ser
dados por algumas instituições . O país continua a funcionar, mas, a
propósito, do meu ponto de vista, a campanha e a eleição do líder do
PAICV deviam ser adiadas. São sinais apenas, mas com muita força e que
simbolizam respeito.
6. É apenas a minha opinião: há mais de meio milhão de outras por aí e é bom que assim seja.
Foto cedida por Fausto do Rosário.
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