quinta-feira, novembro 27, 2014

Há sinais e sinais, a propósito do Vulcão

A propósito de um post publicado por mim no Facebook sobre a suspensão dos trabalhos da Assembleia Nacional e na sequência de algumas mensagens, por via interna, de amigos que muito aprecio e respeito, explico melhor a minha opinião.

1. As decisões políticas têm resultados práticos que extravasam o seu alcance político, legislativo, financeiro ou económico. Elas podem - e devem - motivar e orientar a comunidade, estimular atitudes, provocar reacções, concentrar atenções e vontades. Para usar um exemplo, é comum dizer-se que a melhor arma política de um Presidente da República é a mensagem à Nação. 

2. A suspensão das sessões durante esta fase de maior actividade eruptiva do vulcão (mais duas ou três semanas, talvez) seria entendida como um sinal a cada cabo-verdiano e à comunidade internacional de que a Nação está concentrada numa situação que lhe sai completamente das mãos, uma fatalidade da natureza e que não pode ser encarada pelo país como, por exemplo, um mau ano agrícola.

3. Num parlamento em tempo integral, podia-se optar por uma de duas opções, embora existam outras: adiar a aprovação do OGE porque toda a lei tem uma excepção, principalmente por causas naturais, portanto, não controláveis, ou impôr um limite temporal radical para aprovação do OGE nem que para isso o parlamento trabalhe a "desoras". Aliás uma situação que se tem repetido por este mundo fora, como, por exemplo, nos EUA por ocasião do shutdown de 2013. O Congresso trabalhou mais de 24 hora seguidas.

4. Pergunto: como pode um primeiro-ministro e a sua equipa (segurança, economia, finanças, etc.) concentrar-se no socorro às pessoas e bens quando tem de responder a números e detalhes do OGE, recorrendo a um sem-número de assessores, documentos, etc. Neste momento, as responsáveis pelos sectores das finanças e economia já deviam estar, com as suas equipas, a criar planos alternativos e a fazer contas e projecções das necessidades dos próximos tempos. O ministro das Relações Exteriores já devia estar numa roda viva de contactos à procura de disponibilidades e apoios financeiros. Atenção: não digo que não estejam a fazê-lo, aliás acredito que já tenham tomado essas iniciativas, mas enquanto têm à perna perguntas da oposição que não vai aprovar o OGE - tanto o Governo como a oposição e os cabo-verdianos sabem que assim é - não poderão concentrar-se na situação da ilha do Fogo.

5. As instituições do Estado não podem parar, não, como dizem os meus amigos, mas há momentos, há situações e há, principalmente, sinais que devem ser dados por algumas instituições . O país continua a funcionar, mas, a propósito, do meu ponto de vista, a campanha e a eleição do líder do PAICV deviam ser adiadas. São sinais apenas, mas com muita força e que simbolizam respeito.

6. É apenas a minha opinião: há mais de meio milhão de outras por aí e é bom que assim seja.

Foto cedida por Fausto do Rosário.

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