quinta-feira, dezembro 11, 2014

Notas de uma quinta, 11


1. O presidente Obama e os democratas mostraram os dentes e disseram aos republicanos que a maioria no Congresso a partir de Janeiro não será um passeio a seu bel-prazer. Depois de aprovar decretos que aliviam a vida a quase cinco milhões de indocumentados, o que provocou a ira dos republicanos ao ponto de 17 Estados por eles governados terem processado Obama, agora foram os senadores a aprovarem um relatório que comprova - todos sabíamos - os métodos de tortura autorizados pela Administração Bush para tentar tirar informações a presos na chamada luta contra o terrorismo.

Os republicanos voltaram a sentir o soco no estômago e colocaram cá fora os seus principais "pivots", a começar pelo antigo vice-presidente Dick Cheney, na verdade quem dirigia o país, juntamente com o intratável Donald Rumsfeld e o "speedy Gonzalez" Karl Rove. Mas a defesa é quase impossível e as justificações muito primárias.

Democratas e republicanos preparam-se para dois anos de puro e duro combate político, no qual tudo, mas tudo mesmo, valerá a pena. É a política no seu apogeu.


2. Por falar em política no seu apogeu, foi curioso ver a leitura de alguns políticos, e não só, à pesquisa da Afrosondagem sobre as eleições no PAICV e as projecções dos embates de 2016. Quando os resultados são favoráveis, eles não comentam ou apenas dizem que "o mais importante é continuar a trabalhar para o bem de Cabo Verde". Quando não o são, colocam em causa o trabalho da empresa , bem à maneira cabo-verdiana de que "só eu é que sei fazer as coisas".

Curioso é notar que foi essa mesma empresa que, se me recordo bem, acertou nas legislativas de 2011 quando outras empresas, nomeadamente da metrópole ou próximas a um partido, apresentou dados que se mostraram depois totalmente errados.


As sondagens são fotografias de um momento e de uma circunstância específica, e devem ser entendidas como tais. Agora, trazer argumentos escusos... fica mal. E as reacções não foram apenas dos tambarinas.


3. Em 1995, foi dito que os donativos e a ajuda destinada às vítimas da erupção de então estavam a ser manipulados e usados com fins eleitoralistas pelas câmaras municipais do PAICV e pelo Governo do MpD. E que havia gente a desviar e a "ficar rica" com cimento, areia, verguinhas, etc. Agora, a situação se repete, com a repercussão que as redes sociais e os "novos informadores" dão a este fenómeno.

Primeiro, "mandar bocas" é o segundo dom do cabo-verdiano, além de ser um lutador por natureza. Segundo, sempre há gente desonesta em qualquer sociedade, estrutura ou ambiente. Terceiro, a ocasião faz o ladrão, como diz o velho ditado.

Frente a este estado de coisas, cabe às entidades dotarem-se de meios de controlo e um país que se gaba de ter instituções que funcionam, o que não é mentira, tem de provar que é sério e não apenas aparentar ser sério.

Neste capítulo, não entro nessa onda doida de que apenas privados e organizações da sociedade civil devem ocupar-se da ajuda, não. Isso é conversa de quem não entende nada de gestão pública. Nem aqui nos EUA, quando há crises há uma instituição federal (FEMA) que se ocupa disso. Cabe às instituições do Estado (centrais e municipais) coordenar a ajuda agora e  reconstruir, no futuro, as localidades, mas, sim, com apoio das organizações sérias da sociedade civil em sectores onde elas podem fazer melhor que o Estado.

Neste particular, defendi sempre que as igrejas - as sérias, volto a repetir - podem ser um bom braço do Estado para a obra social, desde que haja apresentação de contas.


4. A falta de consenso entre os partidos em torno dos fundos para o apoio às vítimas da erupção revela muita falta de maturidade política. Mesmo sendo verdade que tudo isso é pura política partidiária a menos de 18 meses das eleições, qualquer iniciante no mundo da política sabe que em determinados momentos - e este é um deles - qualquer consenso, mesmo não sendo o ideal, é melhor (mais votos) do que o discenso. Elementar. Qualquer outro discurso "é pa pta areia na oi"...

5. Há uma excelente campanha de solidariedade em Cabo Verde, na diáspora e na comunidade internacional e as ajudas vão chegar. Pergunto: Haverá um plano e uma estrutura prontos para começar a centralizar e a canalizar de forma organizada e sustentada toda essa ajuda?


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