quinta-feira, abril 02, 2015

O carácter, os Pedros no Quénia e a Páscoa

 O túmulo ... vazio

Em tempos de recordar a tradicionalmente chamada Semana Santa, regresso sempre a um episódio geralmente relegado a um segundo plano, mesmo sendo uma das maiores traições da História da humanidade. Quando Pedro, que conviveu com Jesus por três anos e se assumia como líder do grupo dos amigos mais próximos do Nazareno, os discípulos, traiu o Mestre.
Frente a uma "criada", referência para identificar alguém do status social mais baixo e, por sinal, mulher, relegada a um plano secundário numa sociedade marcadamente machista, Pedro disse não só não ser "um dos amigos" de Jesus, como garantiu que não sabia quem ele era. O episódio revela o carácter de então de Pedro, o mesmo que horas antes tinha cortado a orelha de um dos soldados romanos destacados para prender a Jesus.
Apesar de ter convivido com Jesus, ouvido os seus ensinamentos e visto os seus milagres, o carácter de Pedro não tinha sido verdadeiramente mudado a ponto de estremecer ao primeiro solavanco. O mesmo Pedro que se afundara no mar, continuava sendo um homem de pouca fé, apesar do seu voluntarismo.
Entrada do Jardim do túmulo

A humanidade, no entanto, viria a conhecer um novo Pedro depois da ressurreição de Jesus e do baptismo do Espírito Santo. Um homem de carácter que nunca mais traiu o seu Mestre, e que, segundo a tradição, porque não há qualquer referência na Bíblia, viria a morrer crucificado e de cabeça para baixo.
Ontem, quando, tradicionalmente, se celebra o dia em que Jesus comemorou a última festa da páscoa com os seus discípulos, um atentado terrorista matou mais de 150 pessoas no Quénia . A pergunta dos assassinos, assumidamente muçulmanos, às suas potenciais vítimas foi "és cristão ou muçulmano". E aqueles que disseram que eram cristãos foram todos assassinados, mais de uma centena.
Ao contrário de Pedro, que não enfrentou arma, mas uma inofensiva mulher, os jovens do Quénia não traíram a sua fé ou, apenas, cultura. Que carácter!
O verdadeiro sentido da Páscoa, não apenas a tradição judaica ou cristã, é capaz de  moldar o nosso carácter de tal maneira que nunca venhamos a trair a nossa consciência e  fé. O preço pago por Jesus foi muito alto para sermos tão lestos a cair na primeira tentação. O nosso cálice não será nunca semelhante ao de Jesus que o bebeu todo e concluiu "está consumado".

Feliz Páscoa a todos.



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