No final deste Outubro Rosa, escrevo outra vez sobre a minha
saúde por ocasião do exame semestral. Penso, particularmente, naqueles que
lutam contra o câncer, mas também em todos que enfrentam lutas, a qualquer nível.
Começo por deixar claro que não o faço, assim como nunca o fiz,
por nenhum tipo de vaidade ou exibicionismo, nem para mostrar ser valente ou
vencedor, muito pelo contrário. Quem me conhece sabe que é assim.
Tenho procurado abordar este assunto com base em dois
pressupostos fundamentais: agradecer a Deus por me ter preservado a vida, nas
mais diversas formas, e motivar outros a enfrentarem a todo o tipo de
contrariedades. Com fé em Deus, em primeiro lugar, mas também com vontade de
vencer, mudança de estilo de vida e respeito escrupuloso do tratamento médico.
Acredito, e só pode ser assim, que Deus tem preservado a minha
vida com um propósito. Não o tem feito por ser eu melhor do que ninguém, nem
por merecer mais do que qualquer outro ser humano, não por ter um melhor seguro
de saúde que os outros ou por ter encontrado os melhores médicos e os outros
doentes não. Nada disso!
Para mim, tudo parte da base de que Deus tem um propósito com a
minha vida e é isso que me motiva, diariamente, a entender esse propósito. E à
medida que o vou descobrindo, procuro segui-lo, custe o que custar. Este texto
é uma das formas de cumprir esse propósito.
Na semana passada, submeti-me a uma exaustiva bateria de exames
durante três dias em que o meu corpo foi “escrutinado” do primeiro fio de
cabelo às unhas dos pés. No dia 28, o oncologista especializado em pâncreas (são
quatro que me atendem) recebeu-me no seu consultório. Depois daquela espera
habitual, chega o assistente para a primeira sabatina: volta a lembrar-me que “a sua história é única”, porque depois
de três cânceres, vários exames e dois profundos testes genéticos, reitera, eles continuam
sem entender “nada”.
Fica espantado quando lhe repondo negativamente a todos os
sistomas pelos quais me pergunta e vê que levo uma vida normal. Às vezes até um
pouco agitada, é verdade, depois de seis
anestesias gerais, cinco cirurgias e um tratamento de quimioterapia de cinco
meses.
A semana tinha sido dura. Bianca e Bruna tiveram um surto de
diarreia e vómitos, em tempos alternados – para animar ainda mais o ambiente -,
daí que os níveis de ansiedade encontravam-se muitos elevados. A Valéria,
assoberbada de trabalhos, estava mais nervosa do que o habitual, notava-se. Os
meus tiques nervosos atingiram altíssimos níveis de rotação, ao ponto de o medico
assistente ter perguntado quando é que começaram. “Desde a barriga da minha
mãe”, disse.
A caminho do hospital e mesmo dentro do consultório, Valéria e
eu entreolhamos porque sabíamos que a ansiedade era enorme. Mas por quê? Não continuamos a confiar no mesmo
Deus, Aquele que, na manhã de um sábado de Setembro de 2014, me acordou com a
frase “Miracle Done” (Milagre feito)?
Onde ficou a promessa recebida em Maio de 2011, em Cabo Verde, momentos antes do
primeiro exame em todo esse processo, que dizia “(O Senhor) farta a tua boca de bens, de modo que a tua juventude se
renova como a da águia”(Salmos 103:5)?
Nenhum combate, físico, intelectual, emocional, mental ou
espiritual é fácil. Para apimentar a situação, antes da consulta mandaram-me
fazer um exame de sangue. “Encontraram alguma coisa e querem mais exames?”,
perguntou a Valéria. Lembrei-lhe que antes dos controlos semestrais há sempre exames
de sangue. Mas era mais um ponto a ter em conta...
Na verdade, nesses momentos, a luta mental é enorme e intensa,
mas é aí que se ganham as grandes batalhas. Apesar do emocional estar afectado,
da ansiedade atingir níveis altíssimos e de qualquer sinal poder ser entendido
como negativo – afinal, somos humanos! –, é na mente, onde se reflecte o nosso
espírito, que ganhamos as batalhas. Ou nos deixamos vencer pelas potestades ou
nos agarramos à confiança em Deus.
Entra o oncologista principal, com um sorriso de orelha a
orelha, mas não se descose. Pergunta-me como me sinto. Como fiz ao seu
assistente, que não cedeu, piquei-lhe “você
sabe mais do que eu porque tem o resultado dos testes...” Riu-se longamente,
apresentei-lhe a Valéria e, como que a avisar que o almoço está pronto disse,
liminarmente: “o exame foi exaustivo, mas
está tudo bem, tudo limpo e daqui a seis meses nos vemos outra vez”. E
tchau… Antes de sair, convidou-me para um congresso de especialistas, doentes e
sobreviventes de câncer em Dezembro.
O que fazer? Agradecer a Deus, confiar n´Ele e seguir o
propósito. O resto é vaidade.
As lutas são para se enfrentar. A forma como as enfrentamos
determinam o seu desenrolar, mas as respostas vêm de Deus. É o meu
entendimento. E no dia em que Ele achar que terminou o meu propósito e decidir me chamar, vou na certeza de ter combatido o bom combate. E guardado a fé.
Não há motivos para temer, há, sim, razões para confiar!!! Mesmo depois do Outubro Rosa.
2 comentários:
Querido Alvaro parabéns 🎊 por esse texto lindo e emocionante.... Deus tem poder. Te agradeço de coração o fato de partilhares isso, és um exemplo pra todos. Que Deus te abençoe e à tua família. Um grande abraço Carla ( filha do pastor Mario e Rosely).
Querido Alvaro parabéns 🎊 por esse texto lindo e emocionante.... Deus tem poder. Te agradeço de coração o fato de partilhares isso, és um exemplo pra todos. Que Deus te abençoe e à tua família. Um grande abraço Carla ( filha do pastor Mario e Rosely).
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