Há cerca de um mês que trago um certo peso na alma e na mente: endereçar algumas letrinhas às guerreiras e guerreiros que lutam contra o câncer (continuo a recusar escrever cancro, parece-me ter uma carga sonora muito pejorativa!!!).
Nos ultimos dias, recebi a notícia de mais
pessoas que ouviram a terrível frase “tu tens câncer”. Sendo assim, aproveito
para enviar uma palavra de motivação, ânimo e incentivo a esses combatentes.
Para aqueles que não sabem, pela graça de
Deus e pelos bons cuidados médicos a que tive acesso, sou sobrevivente de cinco cânceres (bexiga, próstata, pâncreas e nas duas mamas), mas nenhum relacionado com
o outro, sem metátese e sem qualquer explicação médica, mesmo depois de dois
exaustivos testes genéticos, negativos.
Se uso este meio, e o tenho feito com alguma
irregularidade, é tão somente motivado pela “obrigatoriedade natural” de dar o
meu testemunho, mostrar a minha gratidão e tentar ajudar aqueles que passam ou
virão a passar por essa luta, muitas vezes inglória, mas sempre de muito valor.
Nesta travessia de sete anos, aprendi muito e
descobri algumas ferramentas que gostaria de compartilhar em jeito de
motivação.
1. Reconhecimento. Aprendi a reconhecer que
estava doente e que não havia como dar a volta ao texto, ou seja a prioridade
das prioridades era tratar-me. Interrompi um projecto profissional em que
coloquei toda a minha capacidade e energia, 24/24 horas 7/7 dias, tive de
deixar a minha terra, para onde regressara quatro anos antes, depois de nove
maravilhosos anos em Miami. Aceitar que a frase “tu tens câncer” é real é
pedra angular da cura, mas é fundamental saber que não é o fim.
2. Motivação. Identifiquei que tinha de encontrar
uma motivação superior, pela qual teria de lutar. Encontrei-a nos meus filhos e
na necessidade de acompanhar o crescimento deles, na minha esposa e família, e
no propósito que, sabia, Deus tinha e tem para a minha vida desde que nasci.
3. Sintonia integral. Reconheci que a minha
mente, a minha alma, o meu corpo, os meus objectivos e todo o meu entorno
deviam estar em sintonia para que, juntos, "trabalhassem" para o
mesmo fim. Não podia ter dúvidas na minha mente, enquanto entregava o corpo ao
tratamento, ao mesmo tempo que a minha alma andava carregada de sentimentos
contraditórios. Descubri que teria de procurar um ambiente positivo e confluente
para a minha cura, colocando de lado até pessoas que pudessem levar-me a
duvidar do caminho.
Neste ambiente saudável, a família desenvolveu um
papel determinante, principalmente no aspecto psicológico. O doente não pode
ser visto como condenado à morte, mas apenas uma pessoa em tratamento, por isso,
mais um da família e não o “coitadinho” que merece a pena de todos.
4. Actividade permanente. Nunca parei de
trabalhar um único dia. Inclusive durante as sessões de quimioterapia,
continuei a escrever, a fazer projectos e, nos últimos anos, a trabalhar
diariamente. Cheguei a trabalhar com bolsas e tubos pendurados. Recomendo, a quem tenho a oportunidade de falar, a manter o corpo e a mente ocupados, em
projectos viáveis. A viver intensamente.
5. Nada de lamentar. “Por quê, eu?”, foi uma
pergunta que nunca permiti que se alojasse na mente, mormente fazer morada na
minha alma ou no meu espírito. Podia ter significado a morte do corpo. Chorei,
sim, ainda que uma só vez, houve momentos de desânimo, quase me desesperei, mas lutei para não lamentar,
recusei considerar-me condenado e refutei a ideia de que estava perante
qualquer castigo divino. Admiti sim e assumi que tinha de lutar, para poder
vencer.
6. Tratamento radical. Desde a primeira hora,
aprendi a escolher o tratamento radical. Onde foi possível cirurgia, preferi ir
à faca do que passar por tratamentos outros como quimioterapia ou radioterapia.
Apenas no primeiro câncer (bexiga) recebi quimioterapia, seguida de uma
cirurgia radical. Nos outros três optei sempre pela cirurgia. Mais: depois de
me ter sido retirada a mama esquerda, pedi para que fosse feito o mesmo com
a outra. Apesar de, nos exames, a mama direita ter aparecido como estando
limpa, o facto é que, após a sua remoção, a biópsia comprovou que havia um
câncer em desenvolvimento. Neste tipo de lutas, a estética é a última na escala
de opções.
7. Fé inabalável. Aqui pode radicar a diferença
para uma recuperação total e, no meu caso, acredito que a minha fé em Deus e o recurso
permanente a Ele através da oração foram basilares na minha cura. Para mim, mais do que os seis
instrumentos acima citaods, houve um terceiro elemento nesta “trindade” final:
o propósito de Deus e o pacto que temos. O ponto de partida continua a ser a fé
e o pacto com Deus. Sem religiosidade, sem dogmas, sem rituais, sem sacrifícios,
sem pagamento de dinheiro!
Conclusão: A frase “tu tens câncer” está longe de
ser uma sentença e, caso o seja, há onde recorrer. Fé, Força e Foco funcionam.
Vamos lá, guerreiras e guerreiros!
8 comentários:
Obgr. pela partilha e pelo testemunho.
Eu tb sou uma sobrevivente, luto pela causa,minha causa a causa de todos.
sou guerreira, e me recuso de terminantemente ser rotulada como " vitima" ou "coitadinha" vou lutar até ao fim , para que todos nós podemos dizer não sou vitima, não sou
coitadinho! mas sim sou guerreira e guerreiro nesta luta de todos nós.
Um abraço de irmão na fé.
Grande Álvaro. Este testemunho só confirma o grande Ser que sempre soube que eras. Amigo, solidário, generoso e um verdadeiro Guerreiro. Isto é de facto tudo o que os doentes e potenciais doentes de câncer devem saber.Optimismo acima de tudo.😚
Grande Álvaro. Este testemunho só confirma o grande Ser que sempre soube que eras. Amigo, solidário, generoso e um verdadeiro Guerreiro. Isto é de facto tudo o que os doentes e potenciais doentes de câncer devem saber.Optimismo acima de tudo.😚
Obrigado pela leitura e continue sendo guerreira . Deus à frente
Olá Álvaro.
Gostei do teu artigo. Força e coragem.
Melhoras até a cura total. Abraços.
Oi prima, obrigado pela leitura e palavras. Abraço.
Olá Alvaro. Obrigada pelo lindo e profundo testemunho. Sempre fostes e continuas sendo uma inspiração para todos quantos estamos nesta luta. Como sabes o meu cancer é sistemico metastico e irreversivel e mesmo assim optei por entender a doença sem me entregar a ela. Aprendo tds os dias a viver com o cancer com muita Fé força e foco, com o firme prposito de continuar a reir e a partilhar momentos felices e inesqueciveis com a minha familia e com os amigos. Me recuso, por isso, a ser mais uma "coitadinha" pois sou/somos como bem disseste combatentes com Deus no comando. Muchas bendiciones amigo!. Abrazos
Enquanto há vida a luta para ultrapassar dificuldades deve ser sempre uma constante e fé a nossa motivação.
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